‘Boom’ do comércio virtual esvazia corredores de compras em Nova York

O sol forte desta primavera americana reacendeu a vida nas calçadas, mas ninguém parece entrar nas lojas. Numa butique de sapatos vazia, a música pop fazendo tremer caixas de som, um vendedor pendurava cartazes anunciando uma liquidação.
“Muitos negócios aqui estão fechando”, dizia Joe Aziz, que viu seu pedaço da rua Bleecker, antes uma das mais badaladas vias do Greenwich Village nova-iorquino, virar um deserto de vendas. “São os aluguéis e a internet. Querem comprar só pelos sites, e lojas virtuais não pagam aluguel.”
Há pouco mais de uma década, era difícil imaginar esse desfecho triste para o lugar onde Carrie Bradshaw, a protagonista do seriado “Sex and the City”, fugia do regime e buscava paz de espírito nos doces da Magnolia’s, uma pequena confeitaria que logo ganhou as butiques Marc Jacobs e Ralph Lauren como vizinhas.
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​Num passado não muito remoto, os gigantes da indústria da moda não viam como escandaloso desembolsar o equivalente a quase R$ 100 mil por mês numa quitinete com vitrine por ali. Esse valor chegou a um pico insustentável de mais de R$ 600 mil mensais há dois anos.
E então veio um colapso retumbante. No lugar de fileiras de saltos agulha estonteantes, cartazes anunciam pontos comerciais que agora juntam pó.
“Isso faz parte da história de Nova York, não tem jeito”, diz Ruth Messinger, uma ex-vereadora que, mesmo na época do auge da Bleecker e de bairros como o Upper West Side, onde vive, tentava convencer a prefeitura a criar leis que protegessem pequenas butiques e negócios locais da invasão desses gigantes corporativos.
Mas, como qualquer burocrata ou acadêmico que tentou regular a fúria dos ciclos predatórios de investimento na maior metrópole do país mais rico do mundo, ela nunca passou de voto vencido.
“Quando os bairros passam por fases de gentrificação, os donos dos prédios aumentam os aluguéis sem dó, e todas as tentativas de controle viram questão de amor e ódio nessa cidade”, ela afirma. “Num lugar que só pode crescer na vertical, sempre vai haver gente disposta a pagar o que for por qualquer pedacinho de terra.”
Ou quase isso. Toda essa dinâmica descrita por Messinger, de fato, moldou por muito tempo a paisagem mercantil de Manhattan, mas o poderio do comércio online provocou uma revolução insuspeitada por urbanistas e corretores de imóveis, algo que já apelidaram sem muito exagero de “morte causada pela Amazon”.
Só no ano passado, mais lojas americanas fecharam as portas do que num intervalo de três anos no início deste século. Mesmo sucessos da era hipster, como a American Apparel, declararam falência, e redes como Macy’s, Guess, Abercrombie & Fitch e Nine West, entre outras, fecharam centenas de lojas em todo o país.

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/05/boom-do-comercio-virtual-esvazia-corredores-de-compras-em-nova-york.shtml

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