Bilionários fazem negociações vertiginosas para fechar um dos maiores acordos de tecnologia

Financial Times; Para uma transação complexa que teve oito bancos e quatro escritórios de advocacia listados como consultores, o negócio se resumiu a apenas dois indivíduos concordando rapidamente com um dos maiores acordos de tecnologia já registrados no mundo.

Hock Tan, da Broadcom, e Michael Dell, da fabricante de computadores Dell, arquitetos de mais acordos de negócios do que muitos veteranos de Wall Street, foram os principais organizadores da aquisição da VMware pela fabricante de chips Broadcom, por US$ 69,1 bilhões (R$ 326,8 bilhões).

“Tan ligou para Michael Dell há duas semanas”, disse uma pessoa com conhecimento direto do assunto. “Muitas coisas foram feitas de chefe para chefe, os bancos não foram necessariamente incluídos.”

Este relato de como foi feito um acordo vertiginoso se baseia em várias pessoas com conhecimento das negociações. Elas disseram que os dois bilionários agiram com uma rapidez notável para criar um gigante tecnológico diversificado, exatamente quando os rivais recuam em meio à queda do valor das ações de tecnologia.

É também a maior aposta de Tan, nascido na Malásia e conhecido como o grande consolidador da indústria de chips, que transformou a Broadcom numa gigante maior que Oracle, Intel, Cisco e IBM em valor de mercado.

Tendo sido forçado a aceitar novos acordos no setor de semicondutores, Tan enfrentaria forte oposição de concorrentes e reguladores, então mudou seu foco para software, com a VMware tornando-se seu alvo mais recente.

“Tan é muito do contra”, disse Tony Wang, que cobre a Broadcom como analista da T Rowe Price, um de seus maiores acionistas externos. “Ele não se importa com o que Wall Street pensa e é muito oportunista”, disse.

Quando as negociações começaram, no início deste mês, Dell recebeu Tan em sua mansão palaciana em Austin, no Texas. Foi o mesmo cenário onde, sete anos atrás, ele convenceu o então executivo-chefe da EMC, Joseph Tucci, a vender o conglomerado de tecnologia –proprietário da VMware– para a Dell Technologies por US$ 67 bilhões (R$ 317 bilhões).

Alguns dias depois, banqueiros foram chamados para ajudar Tan a levantar os US$ 32 bilhões (R$ 151,36 bilhões) necessários para financiar a transação. O acordo recebeu o codinome “Projeto Atlas”.

Os conselheiros se referiam à VMware como Verona, em homenagem à cidade italiana que foi cenário de Romeu e Julieta, e à Broadcom como Barcelona, a capital catalã.

Apesar das tentativas de disfarce, as notícias de uma potencial aquisição vazaram. Isso forçou Tan e Dell a fecharem a transação mais rápido do que esperavam, levando-os a incluir uma cláusula de “go-shop” caso surgisse outro comprador com uma oferta maior.

A aquisição de quarta-feira (25) oferece a “acionistas e funcionários a oportunidade de participar de ganhos significativos”, disse Dell, que deve ganhar US$ 24 bilhões (R$ 113,5 bilhões) com a venda, enquanto sua sócia em private equity Silver Lake detém uma participação na VMware no valor de US$ 6 bilhões (R$ 28,4 bilhões).

Dell e Silver Lake podem receber até US$ 15 bilhões (R$ 71 bilhões) em dinheiro da Broadcom, mas o componente de 50% em ações na fusão, projetado para proteger o grau de investimento da Broadcom, mostra sua disposição de apostar em Tan.

Engenheiro formado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Tan foi nomeado executivo-chefe da antecessora da Broadcom, chamada Avago Technologies, em 2006, depois que ela foi adquirida pelos grupos de private equity KKR e Silver Lake por US$ 2,1 bilhões. Desde então, ele aumentou o valor da empresa em mais de cem vezes, para uma capitalização de mercado de US$ 225 bilhões (R$ 1,06 trilhão).

Desde o início, Tan se concentrou em reforçar as operações do que era então um vendedor especializado de semicondutores para mouses de computador e torres de celular.

A KKR e a Silver Lake abriram o capital da Avago em 2009, mas foi apenas quatro anos depois, em 2013, que Tan fechou seu primeiro acordo notável, adquirindo a CyOptics, fabricante de chips para smartphones, por US$ 400 milhões.

“Hock só se tornou um comprador depois de ter uma compreensão muito firme da microeconomia granular de como administrar uma empresa de semicondutores em escala”, disse uma pessoa próxima ao empresário.

Da sede com vantagens fiscais em Cingapura, Tan pegou o bug do negócio. Adquiriu a LSI, designer de chips para data centers, por US$ 6,6 bilhões em 2014, e no ano seguinte conseguiu a aquisição muito mais ambiciosa de US$ 37 bilhões (R$ 175 bilhões hoje) da Broadcom.

O acordo transformou a Avago, que foi renomeada Broadcom, mas manteve seu ticker “AVGO”, em um fornecedor líder de chips usados em carros, robôs industriais e até computadores em miniatura como o Raspberry Pi.

Em 2017, o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, celebrou Tan como um herói corporativo, convidando-o para a Casa Branca para comemorar sua decisão de devolver a Broadcom ao território americano, abandonando a sede em Cingapura, em meio a um corte de impostos corporativos.

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2022/05/bilionarios-fazem-negociacoes-vertiginosas-para-fechar-um-dos-maiores-acordos-de-tecnologia.shtml

 

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