A gasolina está mais cara nos EUA do que nos últimos sete anos, e a Casa Branca sente pressões para reduzir os preços. A mais recente providência do presidente foi pedir à Federal Trade Commission (FTC, órgão de proteção ao consumidor americano) que investigue se as empresas de petróleo e gás estão ou não aumentando artificialmente o preço da gasolina. Seja ou não descoberto algum delito, é pouco provável que a medida detenha as forças que estão puxando para cima os preços da gasolina.
Até ontem, o preço da gasolina estava, em média, em US$ 3,41 o galão (cerca de R$ 4,97 o litro), de US$ 2,12 o galão de um ano atrás, segundo a Associação Automobilística Americana.
O presidente pediu à FTC em carta enviada ontem que verifique se as empresas de petróleo estão ludibriando os americanos ao praticar na bomba elevações de preços maiores do que as computadas pelos preços no atacado.
Para Patrick DeHaan, diretor de análise de petróleo da empresa GasBuddy, operadora de aplicativos e sites de busca de preços em tempo real, a carta é “só teatro político”, voltado para fazer “a opinião pública achar que ele está fazendo alguma coisa”.
“Mas esta é apenas mais uma investigação barata que não vai dar em nada, porque os preços do petróleo e da gasolina estão enraizados em fundamentos econômicos: oferta e demanda”, diz ele. “Os preços elevados são um fenômeno global, não um fenômeno interno. Isso não vai levar a lugar nenhum.”
A carta de Biden diz que “no mês passado, o preço da gasolina inacabada [sem ainda os componentes para ser usado como combustível] caiu mais de 5%, enquanto os preços da gasolina na bomba subiram 3% nesse mesmo período”.
DeHaan diz que a diferença ocorre porque os postos de gasolina geralmente não querem mudar os preços reiteradamente quando o mercado está volátil. Seja como for, os preços da gasolina têm caído nos últimos dias. Nos últimos sete dias, os preços recuaram 2,6 centavos de dólar por galão, em média, segundo a GasBuddy.
Biden também observou que as grandes empresas petrolíferas estão obtendo altos lucros e reembolsando os acionistas com bilhões de dólares em dinheiro. A carta insinua que as empresas estão gerando parte desses lucros por cobrar a mais dos consumidores. A Casa Branca não respondeu de imediato à pergunta sobre se tem provas de prática abusiva.
Um porta-voz da Chevron não quis comentar o assunto e pediu aos jornalistas que procurassem o American Petroleum Institute (API), principal grupo de lobby do setor. Representantes da ExxonMobil e da BP não responderam aos pedidos de comentários sobre a carta de Biden. A Royal Dutch Shell não quis fazer comentários sobre o assunto.
Biden e seus principais assessores vêm há semanas avaliando as opções de política em resposta aos altos preços da gasolina, em meio a crescente preocupação com a pressão inflacionária. Os preços ao consumidor nos EUA atingiram a maior alta em três décadas em outubro. Os preços da gasolina subiram mais de 60% ao ano no início de novembro, elevando os preços da gasolina comum para o nível mais alto desde 2014, segundo o Departamento de Energia.
O presidente tem opções limitadas para baixar os preços rapidamente e não consegue resolvê-lo por meio da diplomacia ou de medidas governamentais.
Biden vem pedindo a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para que aumente a produção a fim de forçar uma queda dos preços, mas o cartel vem se recusando a mudar sua política de produção, citando a incerteza com relação à demanda e a outros fatores. Além disso, nos EUA, a produção segue abaixo dos níveis pré-pandemia, já que as empresas reduziram investimentos em prospecção para preservar caixa.
Defensores do setor dizem que Biden está piorando o problema em vez de corrigi-lo. Frank Macchiarola, vice-presidente-sênior de política pública, economia e assuntos de regulamentação no API, espondeu à carta de Biden dizendo que as políticas adotadas por ele estão produzindo um “desequilíbrio” no mercado. Ele cita, como exemplo, as medidas do governo para restringir o acesso à prospecção em algumas áreas.
