O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que as forças americanas vão defender Taiwan no caso de uma invasão chinesa, sua declaração mais explícita sobre o assunto. Biden também alertou o presidente russo, Vladimir Putin, das consequências caso a Rússia use armas químicas ou nucleares táticas em sua guerra na Ucrânia.
“Não, não faça isso. Você [Putin] mudaria a forma de guerrear mais profundamente desde a Segunda Guerra Mundial”, disse Biden. “Haverá consequências”, acrescentou, mas sem especificar quais seriam, dizendo apenas que seriam determinadas pela “extensão” do que for feito pelos russos.
Questionado se as forças dos EUA defenderiam a ilha democraticamente governada reivindicada pela China, Biden respondeu: “Sim, se de fato houver um ataque sem precedentes”. Solicitado a esclarecer se quis dizer que, ao contrário do que ocorre na Ucrânia, as forças americanas defenderiam Taiwan no caso de uma invasão chinesa, Biden respondeu: “Sim”.
No início da entrevista, Biden havia dito que os EUA mantinham sua política de “uma só China”, na qual evitou o reconhecimento formal do governo de Taipé. “Concordamos com o que assinamos há muito tempo. E que há uma política de ‘uma só China’, e Taiwan faz seus próprios julgamentos sobre sua independência. Não estamos mudando — não estamos incentivando a independência deles”, disse. “Essa é a decisão deles.”
Solicitado a comentar, um porta-voz da Casa Branca disse que a política dos EUA em relação a Taiwan não mudou. “O presidente já disse isso antes, inclusive em Tóquio no início deste ano. Ele também deixou claro que nossa política de Taiwan não mudou. Isso continua sendo verdade.”
Ontem, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China disse que Pequim “deplora e rejeita” os comentários de Biden e fez “queixas solenes” aos EUA.
Biden fez três advertências semelhantes no passado, mas no domingo foi a primeira vez que o fez desde que a China reagiu furiosamente à visita da presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, a Taiwan, com manobras militares sem precedentes, incluindo disparos de mísseis balísticos, sobre a ilha.
Biden fez uma declaração semelhante sobre a defesa de Taiwan no Japão em maio. Na época, ele disse que a política dos EUA para Taiwan não havia mudado, mas seus comentários foram vistos como diluindo a política de décadas de “ambiguidade estratégica” de Washington.
A China reivindica Taiwan como seu território, embora o Partido Comunista nunca tenha controlado a ilha e não descarte o uso da força para impedir sua independência formal.
“Há muito tempo, a China assume que os EUA vão intervir para defender Taiwan, então essas declarações não mudam os planos do Exército chinês”, disse Bonnie Glaser, diretora do Programa Ásia do German Marshall Fund. “Se Biden levar a sério a defesa de Taiwan, ele dará uma prioridade muito maior ao reforço da capacidade dos militares dos EUA de defender Taiwan se for atacado.”
Biden também reiterou que os EUA continuarão apoiando a Ucrânia, “enquanto for necessário”. Questionado se Kiev está vencendo, Biden disse que eles “não estão perdendo a guerra”, embora a carnificina e a destruição tornem “difícil ver isso como vitória”.