Bancos dos EUA miram companhias da Europa

Bancos de Wall Street estão fazendo um grande esforço para ajudar companhias de capital fechado da Europa a levantar recursos. O objetivo é superar os concorrentes locais e aumentar suas chances de garantir contratos lucrativos para uma nova onda de grandes ofertas públicas iniciais de ações. 

Altos executivos de Goldman Sachs e J.P. Morgan Chase disseram estar concentrados nos esforços de expansão de seus negócios de colocações privadas, em meio a um frenesi mais amplo nos mercados de capitais. Eles estão apostando que o aumento das captações de recursos pelas empresas de capital fechado acabará se mostrando mais do que um boom temporário. 

A operação europeia do Goldman Sachs já trabalhou em 18 operações, captando um total de mais de US$ 9 bilhões no ano até agora, comparado a seis negócios avaliados em US$ 1,7 bilhão em 2020. Este ano o banco criou um novo grupo de “produtos alternativos de ações” para gerenciar os negócios na Europa. Lyle Schwartz, diretor adjunto da unidade, disse que está “aplicando mais recursos em nosso negócio de colocações privadas, que tem crescido massivamente” porque é visto como um “condutor sustentável e sistêmico de nosso crescimento no longo prazo”. 

Embora o número de banqueiros dedicados a negócios privados continue pequeno, as equipes estão crescendo. A equipe do concorrente J.P. Morgan na Europa, Oriente Médio e África (região conhecida como Emea) mais que dobrou de tamanho desde o começo de 2020, enquanto o número de funcionários no negócio maior de mercados de ações de empresas de capital aberto permaneceu estável. 

Aloke Gupte, diretor adjunto de mercados de ações do J.P. Morgan para a Emea, disse: “Este ano todos estiveram muito voltados para o mercado aberto de IPOs por razões óbvias – tivemos um ano recorde em quase todos os produtos, mas eu acho que a força dos mercados de capitais privados é incrível”. 

A unidade de novos produtos alternativos de ações do Goldman Sachs também abriga as operações que atendem o nascente mercado europeu de Spacs (companhias de aquisições com propósitos específicos), mas o continente não experimentou o mesmo “boom” que os Estados Unidos. Apenas 28 Spacs foram listadas na região da Emea nos primeiros nove meses de 2021, segundo dados levantados pela Refinitiv, com o Goldman Sachs e o J.P. Morgan atuando como coordenadores em quatro e sete negócios, respectivamente. 

Outro alto executivo do Goldman Sachs disse que, embora “vá haver algumas emissões de Spacs na Europa”, grandes captações de recursos privadas são “uma tendência secular mais sustentável”. 

O foco nas colocações privadas por dois dos maiores bancos de Wall Street demonstra a crescente maturidade do ecossistema de startups da Europa, especialmente para as empresas de tecnologia e cuidados com a saúde. As companhias europeias captaram US$ 72 bilhões em financiamentos de capital de risco nos primeiros nove meses deste ano, segundo a CBInsights, 82% mais que o recorde estabelecido em 2019 como um todo. 

Além de gerar honorários com negócios individuais, o aumento das grandes captações proporciona aos bancos uma oportunidade para eles começarem a
estabelecer relações iniciais com as startups mais promissoras antes de eventos ainda mais lucrativos, como fusões e aquisições e IPOs. 

Schwartz disse que os negócios têm sido “muito frutíferos para relações de longo prazo” com clientes em crescimento acelerado, colocando o banco na dianteira para conseguir negócios quando os clientes se expandirem. O grupo de pagamentos internacionais Wise, por exemplo, já trabalhou com o Goldman Sachs em vários negócios privados antes e escolheu a instituição financeira para liderar sua grande listagem direta neste ano. 

Os banqueiros esperam repetir esse modelo com clientes recentes que são candidatos a futuros IPOs, como o serviço de entregas de produtos de supermercado Getir, o banco britânico Zopa e a especialista em transferência de dinheiro Zepz. 

Há cerca de 130 dos chamados “unicórnios”, na Europa – as startups de capital fechado avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. Mas o diretor do J.P. Morgan prevê que haverá mais de 250 na região da Emea em “um ano” ou dois. “Ainda não vimos a extremidade acentuada da curva de crescimento. Muitas empresas estão registrando crescimento acelerado em muitos setores diferentes”, afirmou Gupte.

https://valor.globo.com/financas/noticia/2021/11/09/bancos-dos-eua-miram-companhias-da-europa.ghtml

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