As “Big Four” enfrentam uma saída complicada da Rússia

Companhias ocidentais vêm cortando seus laços em massa com a Rússia desde que Vladimir Putin enviou suas tropas para a Ucrânia. Mas mesmo quando bancos como o Goldman Sachs e empresas de energia como a BP disseram que estavam saindo do mercado, eles não foram muito claros sobre o que isso significa na prática.

As quatro maiores empresas de contabilidade e auditoria do mundo, as chamadas “Big Four”, juntaram-se ao êxodo corporativo mas ainda lidam com as aspectos práticos dessa decisão, segundo disseram várias fontes ao “Financial Times”.

Deloitte, EY, KPMG e PwC empregam cerca de 15 mil pessoas em seus escritórios na Rússia e estão profundamente envolvidas na economia do país. As maiores empresas são seus clientes, incluindo as estatais. A KPMG trabalhou para a Gazprombank e a Lukeoil, enquanto que a EY audita a Rosneft, o VTB Bank e a Evraz. A PwC assinava as contas do Sberbank.

Tudo isso torna a saída um processo doloroso. Eis uma visão detalhada de onde as coisas se encontram: 

As Big Four realmente deixaram a Rússia? 

Não. A Deloitte disse que sua “transição levará algumas semanas”. A PwC pretende sair “assim que possível, o que não deve demorar mais de seis meses”. A KPMG não disse nada sobre quando vai sair. 

Os líderes globais da EY disseram a milhares de sócios em um telefonema na terça-feira, dia 8, que sua saída levará de oito a doze meses”, disseram fontes ao “Financial Times”. 

Os sócios foram informado de que a retirada da EY poderá ser revertida se a situação na Rússia mudar. A mensagem dos líderes da empresa “pareceu uma esperança de que a situação poderia mudar”, disse uma das fontes. No entanto, uma fonte próxima da EY afirmou que a declaração sobre uma reversão foi improvisada e que seria um erro sugerir que a firma está tendo dificuldades para deixar a Rússia. 

O problema é que as Big Four são redes nacionais de propriedade separada que pagam uma taxa a cada ano pelo compartilhamento da marca e tecnologia. A estrutura dificulta a saída para as empresas nacionais e ela normalmente leva mais de um ano. 

Agilizar o processo significa eliminar obstáculos legais e práticos, como a possibilidade ou não dos membros russos poderem continuar usando as plataformas globais de auditoria das Big Four sob licença. 

A Deloitte está considerando se seus negócios russos teriam de mudar para a “caneta a papel” por causa das limitações ao compartilhamento de tecnologia com empresas que não são da rede, disse uma fonte a par de suas deliberações. 

A Microsoft suspendeu as novas vendas na Rússia, o que significa que as firmas locais poderão ficar sem tecnologia básica a menos que consigam manter suas licenças de software existentes. 

Contadores disseram que também estão tentando gerenciar a cisão de uma forma a minimizar os riscos de que as novas firmas independentes russas possam ser punidas pelo Kremlin por causa da retirada. 

As pessoas perderão seus empregos e as Big Four perderão dinheiro? 

Provavelmente empregos serão perdidos, mas indiretamente. Espera- se que as empresas-membro russas continuem sendo entidades independentes, mas o êxodo das companhias ocidentais da Rússia e o isolamento econômico cada vez maior do país significam que muito de seu trabalho vai secar. 

Cerca de metade das receitas da PwC na Rússia vem de trabalhos remetidos por sua rede global, segundo uma fonte a par dos negócios. “Se você não trabalhar mais para a metade desses clientes, faça as contas”, disse uma fonte de outra firma. “As pessoas irão embora.” 

Os lucros na Rússia não são divulgados, mas são em sua maior parte retidos localmente, de modo que deverá haver pouco efeito sobre as finanças globais das Big Four. 

As vendas das empresas russas são apenas uma pequena fração das receitas globais anuais de US$ 167 bilhões das Big Four. O principal motivo para o desenvolvimento da presença no país tem sido atuar como “um balcão único” para grupos multinacionais. 

A KPMG Russia informou receitas de mais de 15 bilhões de rublos em 2020, equivalentes a cerca de US$ 127 milhões, depois do colapso da moeda russa. 

A PwC teve receita de 5,8 bilhões de rublos (US$ 43 milhões) com clientes de auditoria no ano passado, enquanto a EY informou vendas equivalentes de 6,2 bilhões de rublos (US$ 46,2 milhões) em 2019, um número que acredita-se ter aumentado significativamente deste então. Nenhuma das empresas informou suas receitas com clientes fiscais e de consultoria. A Deloitte não publica seus números. 

As Big Four na Rússia também encaminham trabalho para coletas de outros países. As comissões obtidas com isso não são reveladas, mas um executivo de uma das quatro grandes disse que elas são de algumas dezenas de milhões de dólares por ano em sua firma e que esse valor é menor do que o custo que ela terá para se divorciar de suas operações russas. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/03/14/auditoria-as-big-four-enfrentam-uma-saida-complicada-da-russia.ghtml

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