Alibaba vende US$ 31 bilhões em 24 horas

Jackson Yee, garoto franzino de 17 anos, espécie de Justin Bieber da China, é uma das grandes atrações do show que marcou o início do Dia dos Solteiros (Single’s Day), o maior evento do varejo do mundo, criado pelo grupo chinês Alibaba dez anos atrás. A cada ano, o evento, que se assemelha à Black Friday, com grandes descontos nos preços, aumenta o volume de negócios. Neste ano, em 24 horas, o Alibaba fechou vendas de 214,5 bilhões de yuans, equivalentes a US$ 30,8 bilhões. A maior parte das vendas é on-line. No ano passado, foram entregues 812 milhões de pacotes e neste ano, 1,042 bilhão. “Mais do que evento de marketing, é um teste de estresse para nossa infraestrutura tecnológica, de dados e de logística”, disse Michael Evans, presidente do grupo Alibaba.
O 11 de novembro tomado emprestado por Ma para servir de mote para sua grande tacada promocional saiu de ser uma obscura data comemorativa dos estudantes chineses em oposição ao dia dos namorados para se tornar a celebração do consumismo da emergente e numerosa classe média chinesa. Um consumismo de excessos, como o show da noite do último sábado, assistido por 240 milhões de pessoas e outras 25 milhões pelo youku (o youtube chinês). Com um palco que era uma grande tela de led, jogos de luzes e volume de som dignos de deixar zonzo qualquer um abaixo dos 20 anos.
O show é uma sucessão de números extravagantes, como acrobacias do Cirque du Soleil em que os artistas carregam sacolas de compra enquanto fazem piruetas, ou uma canção românticaem que a letra encoraja os ouvintes a abrir seus navegadores e se preparar para comprar. Após a performance da Beyoncé do Japão, Naomi Watanabe, o palco é tomado por um cabo de guerra entre celebridades. É o pretexto para que, de casa, com seus smartphones em punho, os telespectadores possam acumular cupons de desconto caso acertem quem será a equipe vencedora. Um mês antes a rede varejista Tmall, do grupo Alibaba, iniciou a contagem regressiva para o Dia dos Solteiros com um show de moda também na televisão, batizado de “See now, buy now”, em que os telespectadores podiam comprar em seus aparelhos celulares, em tempo real, roupas e acessórios que apareciam na tela da televisão. O bom e velho consumo por impulso potencializado pelo uso da tecnologia, algo que o grupo domina como poucos no mundo.
Valeu de tudo para que o 11.11 deste ano mais uma vez estabelecesse recordes, já que a economia chinesa dá sinais de desaceleração e o grupo enfrenta concorrentes como o site de comércio eletrônico JD.com. Faltando ainda mais de oito horas para o fim da promoção, o grupo já havia conseguido atingir a marca vendida no total das 24 horas de 2017, ou seja, 168,2 bilhões de yuans ou cerca de US$ 24 bilhões ao câmbio da época. No total, ao completar 10 anos do Dia dos Solteiros, o Alibaba conseguiu atingir 214,5 bilhões de yuans (US$ 30,8 bilhões) vendidos nesta edição de 2018.
O frenesi de compras não está nas lojas físicas, já que a maior parte das
vendas acontece no pujante comércio online do Alibaba, sustentado em sua maioria por consumidores jovens e grandes usuários de smartphones _ embora outras redes de varejo também peguem
carona na data. O movimento físico fica por conta dos centros de distribuição, abarrotados de pacotes a serem despachados nos dias que se seguem. No ano passado, foram 812 milhões de pacotes entregues e neste ano nada menos que 1,042 bilhão unidades serão despachados.
“Mais do que um evento de marketing, o Single’s Day é um teste de estresse para nossa infraestrutura tecnológica, de dados e de logística”, disse Michael Evans, presidente do grupo Alibaba ao Valor, em conversa na tarde deste domingo num hotel em Xangai.
O grupo tem hoje 30 negócios diferentes e a meta é que todos façam parte do 11.11 na próxima edição. “Queremos incluir todas as nossas plataformas online e de negócios locais e o chamado novo varejo”, disse Evans numa entrevista coletiva mais cedo. Hoje, mais de 20 desses negócios já foram integrados. Os dados são processados na núvem própria do Alibaba, a logística é do grupo e todas as compras são pagas pelo sistema de pagamentos Alipay, por exemplo. Apenas uma pequena fração das compras é financiada, já que na China os consumidores ainda preferem pagar tudo à vista. Para aqueles que já se arriscam a parcelar suas compras, o Alibaba também fornece o crédito, via a Huabei, empresa de financiamento ao consumo cujo nome significa “apenas gaste”.
No total, mais de 180 mil marcas chinesas e do exterior foram comercializadas e pela primeira vez o Single’s Day foi levado para fora da China, via o site AliExpress _ que incluiu o Brasil com itens em promoção _ e por meio da rede Lazada, em seis países do Sudeste asiático.
Outra novidade da edição deste ano foi a participação do chamado “new retail”, ou o novo varejo que o Alibaba vem testando na rede de superpercados Hema (hipopótamo em chinês). Na rede, que deve fechar o ano com 100 lojas, o grupo tem sido pioneiro em integrar o varejo físico e online de alimentos
frescos, à base de tecnologia avançada, numa estratégia agora copiada pela americana Amazon a partir da compra da rede WholeFoods.
Ao divulgar os resultados do segundo trimestre fiscal, no último dia 2 de novembro, o Alibaba reviu a taxa de crescimento de suas receitas no atual ano, que termina em março, de 60% para 53%, ainda um percentual forte. Evans minimiza os efeitos da desaceleração da economia chinesa. “A venda de geladeiras está caindo, mas a de artigos para bebês e de luxo estão em alta”, disse aos jornalistas em Xangai. “A desaceleração está sendo compensada por outros fatores.” Entre eles, ele cita o fato de 80% do comércio na China ainda se dar em lojas físicas. “Apenas 20% estão online e nós temos uma grande fatia de mercado nisso. Vemos um potencial enorme para crescer ainda mais”, disse ele, sem esboçar preocupação com o excesso de consumismo estimulado pela estratégia do grupo.
O executivo vai além e diz que medir o crescimento das vendas não é a única e nem a maior preocupação dos executivos do Alibaba. “Nós queremos o engajamento dos clientes, nos nossos aplicativos e redes sociais, para que eles vivam boa parte de suas vidas dentro das nossas plataformas”, disse Evans.

https://www.valor.com.br/empresas/5979513/alibaba-bate-recorde-bilionario-na-versao-chinesa-da-black-friday#

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