Trump ataca Merkel por abertura à imigração

Donald Trump acusou a premiê da Alemanha, Angela Merkel, de permitir que imigrantes mudem “violentamente” a cultura da Alemanha. Com isso, o presidente atacou a acuada premiê alemã num momento em que ele enfrenta protestos internacionais por causa da política de separar crianças de seus pais migrantes na fronteira americana.
O golpe desfechado por Trump em Merkel, que incluiu uma afirmação incorreta de que a criminalidade estaria “em alta” na Alemanha, é a mais recente de uma série de disputas que ele comprou com Berlim, e ocorre num momento em que a premiê alemã enfrenta dificuldades para acalmar uma revolta que eclodiu no âmbito de sua própria coalizão de governo sobre se seria recomendável ou não endurecer as políticas de imigração.
“A população da Alemanha está se voltando contra a sua liderança num momento em que a migração abala a já tênue coalizão de Berlim”, escreveu Trump no Twitter ontem. “A criminalidade na Alemanha está em alta. Foi um grande erro em toda a Europa receber milhões de pessoas, que mudaram tão forte e violentamente a sua cultura!”
Trump se recusou a recuar da política de seu governo de separar à força cerca de 2.000 crianças de seus pais, imigrantes ilegais, na fronteira dos EUA com o México, parte do esforço do governo de coibir o fluxo ilegal na fronteira.
Ele continuou a responsabilizar a legislação em vigor pela necessidade de deter crianças separadamente, insistindo que a tarefa de mudar a política está com os democratas, que teriam de aprovar um novo acordo sobre imigração no Congresso para fortalecer as fronteiras dos EUA.
“Os EUA não serão um acampamento de migrantes e não serão abrigo de refugiados”, disse Trump ontem em comentários paralelos feitos na Casa Branca.
O ataque do presidente à política de Merkel ocorre no mesmo momento em que o partido da premiê alemã, a União Democrata Cristã (CDU), e o seu partido coligado na Baviera, a União Social Cristã (CSU), de inclinação mais de direita, recuaram temporariamente de um impasse sobre a possibilidade de fazer com que os migrantes sejam devolvidos ao país de procedência, na fronteira com a Alemanha, caso tenham se registrado em outro país da União Europeia (UE).
A CSU deu duas semanas a Merkel para encontrar uma solução europeia para um impasse que ameaçou rachar a coalizão de governo, no poder há três meses.
No entanto, Horst Seehofer, o líder da CSU, disse que ele e a premiê ainda divergem. “Vou dizer a vocês que nós ainda não estamos numa boa situação, de jeito nenhum”, disse ele ontem à imprensa.
Tanto Trump quanto Merkel tiveram dificuldades em encontrar o ponto de equilíbrio entre atender ao crescente sentimento anti-imigração de seus eleitorados sem infringir a legislação internacional e a crescente indignação moral de seus próprios partidos aliados.
O novo governo populista da Itália adotou uma linha mais dura, ao negar desembarque a um navio com 630 migrantes vindo da Líbia, na semana passada. Eles aportaram na Espanha, no domingo.
“Não queremos que o que está acontecendo com a imigração na Europa aconteça conosco!”, escreveu Trump, em outra mensagem pelo Twitter.
Nos EUA, o presidente enfrentou críticas vindas até da ex-primeira-dama Laura Bush, que comparou a separação das crianças ao confinamento de nipo-americanos durante a Segunda Guerra, e uma crítica velada da primeira-dama Melania Trump, que sugeriu, em declaração à CNN, que a política do governo tinha de ter “coração”.
“O pensamento de que qualquer país tente dissuadir os pais cometendo tamanho abuso com os filhos é inescrupuloso” disse ontem Zeid Ra’ad al-Hussein, o alto comissário de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), em fim de mandato. “Apelo para os EUA porem fim imediatamente à prática da separação forçada dessas crianças”, acrescentou, argumentando que tal política ameaça “causar prejuízos irreparáveis”, às crianças.
Congressistas americanos deverão submeter a votação dois projetos de lei sobre imigração. Um é apoiado pelos republicanos conservadores e pretende responder a exigências da Casa Branda de mais segurança de fronteira e de redução da imigração legal.
O segundo projeto, apoiado por republicanos moderados, oferece um caminho para a obtenção de cidadania aos conhecidos aos imigrantes trazidos aos EUA quando criança por seus pais, e acaba com a política de separação de famílias.
Os democratas dizem que o segundo projeto de lei não oferece proteção suficiente às crianças detidas. Ainda não se sabe se algum dos projetos terá apoio suficiente para ser aprovado.
Cerca de 2.000 crianças imigrantes ilegais foram separadas de seus pais na fronteira nas últimas seis semanas e estão agora detidas em abrigos por autoridades americanas, segundo dados oficiais.
As detenções começaram depois de Trump ordenar tolerância zero no mês passado, após o crescimento da travessia ilegal da fronteira. Isso levou à rígida fiscalização do cumprimento da legislação em vigor, que torna crime, passível de ser punido com detenção, a travessia ilegal da fronteira.
Kirstjen Nielsend, secretária de Segurança Interna, defendeu ontem as políticas do governo: “Temos de fazer nosso trabalho. Não vamos pedir desculpas por fazer nosso trabalho.” Ela alegou que os migrantes e os traficantes de migrantes estão abusando da generosidade dos EUA e usando crianças “fraudulentamente” para entrar “de má-fé” nos EUA.
“Os contrabandistas e traficantes conhecem essas brechas mais do que os membros do nosso Congresso”, afirmou ela.
Mas a secretária e outros membros do governo enfrentam crescente coro de críticas de grupos defensores de direitos humanos e de membros de ambos os partidos, num sinal de que a política de separação pode se tornar insustentável. Há também crescente protesto de líderes religiosos – eleitorado fundamental da base republicana.
O cardeal Timothy Dolan, de Nova York, um dos líderes da comunidade católica americana, afirmou na sexta-feira que a prática “atenta contra a dignidade humana”.
“Se eles querem tirar um bebê dos braços da mãe e separar os dois, isso está errado. Não importa onde a pessoa está, em que época e condição, isso simplesmente vai contra [a dignidade humana]. Não é necessário ler a Bíblia para saber isso”, disse em entrevista à CNN.

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