Troca de acusações marca reunião mais tensa do Conselho de Segurança da ONU

Na mais tensa das três reuniões já realizados Digital sobre o conflito entre Israel e Irã, o Conselho de Segurança das Nações Unidas recebeu uma resolução apresentada por China, Rússia e Paquistão que pede cessar-fogo imediato e incondicional, condena “nos mais fortes termos” os ataques contra as instalações nucleares do Irã e pede uma solução diplomática que garanta um programa nuclear exclusivamente civil no país e suspenda as sanções que lhe são dirigidas.

Ainda que subscrito por dois membros permanentes do Conselho (Rússia e China), o texto, com a atual redação, dificilmente terá apoio da França e do Reino Unido, e, certamente, será vetado pelos Estados Unidos. Ainda que retorne ao colegiado com outra redação, qualquer um dos cinco membros permanentes poderá exercer seu poder de veto.

A intervenção mais contundente ao longo das três horas que durou a reunião foi a do embaixador da Rússia na ONU, Vassily Nebenzia.

“Ninguém deu esta delegação [do ataque] aos EUA”, disse. “Há uma hipocrisia neste colegiado na cobrança para que o Irã se contenha como se fosse este país e não os Estados Unidos que estivesse escalando o conflito”.

A embaixadora americana, Dorothy Shea, rebateu valendo-se daAgência Internacional de Energia Atômica: “Hoje um estado-membro falou de hipocrisia, mas a reação está baseada num relatório da AEIA que atestou o aumento no enriquecimento”.

O embaixador russo acusou os americanos pela ameaça a que submeteu o mundo com os ataques a instalações nucleares iranianas.

Não foi interpelado por nenhum outro integrante do colegiado pelos ataques russos à usina nuclear de Zaporíjia, na Ucrânia.

Tanto o embaixador russo quanto o iraniano, Amir Saeid Iravani, fizeram duras cobranças à AIEA pelo aval ao relatório que atestou o desacato do Irã ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear e acabou sendo usado por Israel para justificar o ataque.

Já a embaixadora do Reino Unido, Barbara Woodward, defendeu o diretor-geral da agência dos ataques de quem sido vítima. No sábado, Ali Larijani, um dos conselheiros do líder supremo do Irã, Ali Khamenei, colocou, em suas redes sociais, um vídeo em que ameaça Rafael Grossi: “Quando a guerra acabar, vamos acertar nossas contas com ele”.

Durante a reunião do Conselho de Segurança, da qual participou, de Viena, sede da AIEA, por videoconferência, Grossi disse que o ataque à instalação de Fordow, encravada numa montanha, causou danos compatíveis com o relato feito pelos americanos. Ponderou, no entanto, que não há meios de acessar o subterrâneo para atestar a extensão do dano.

Disse, ainda, que na instalação de Isfahan, além de o processo de enriquecimento ter sido atingido, os túneis que levam aos depósitos de urânio também o foram. “O regime de não-proliferação está em risco e temos que voltar à mesa de negociação”, apelou, antes de ser respondido pelo embaixador iraniano: “Nunca saímos dela”. A junta de governadores da agência reúne-se na manhã desta segunda-feira para fazer um balanço dos danos e riscos nucleares do conflito

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2025/06/22/troca-de-acusaes-marca-reunio-mais-tensa-do-conselho-de-segurana-da-onu.ghtml

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