Ao falar de geopolítica, o que vem à cabeça das pessoas podem ser as rivalidades entre as grandes potências: EUA versus União Soviética ou, mais recentemente, versus China. É justo. Grandes potências são, como o termo sugere, importantes. Mas, à medida que os americanos rejeitam o papel de polícia global, eles abrem espaço para potências medianas se tornarem mais assertivas.
A Turquia ocupou um pedaço da Síria, mandou tropas para a Líbia, ajudou o Azerbaijão a derrotar a Armênia e acionou sua Marinha para acudir chamados duvidosos em águas mediterrâneas. O Irã apoia milícias para dar suporte ao déspota sírio, possui um braço no Líbano e foi acusado este mês de tentar assassinar o primeiro-ministro iraquiano com um drone carregado de explosivos.
O Paquistão ajudou um grupo de jihadistas misóginos a tomar o Afeganistão. Belarus sequestrou um avião e tem fornecido alicates capazes de cortar arame para migrantes, ordenando a eles que avancem contra a cerca da fronteira polonesa. Cuba treina espiões venezuelanos. A Arábia Saudita bombardeia o Iêmen. Ameaças de tamanho médio estão em marcha. E tornam o mundo mais confuso e mais perigoso.
Nem todos os líderes desses países agem por própria conta e risco. O ditador belarusso se tornou ultimamente fantoche da Rússia; o Paquistão deve muito à China; e todos evitam cuidadosamente um confronto militar direto com os EUA. Mas a maior parte deles persegue agendas próprias, não da grande potência que os garante. Eles estão promovendo o que consideram interesse nacional ou, em muitos casos, os próprios interesses egoístas.
Alguns têm preocupações de segurança nacional. A Turquia queria uma zona-tampão na Síria para impedir que combatentes curdos estabelecessem bases próximas às suas fronteiras. O Paquistão temia a influência da Índia sobre o Afeganistão. O Egito interfere na Líbia porque quer evitar caos em seu território. Mas outros motivos menos louváveis também são comuns.
Alguns líderes, em sua maioria autocratas, estão se aventurando no exterior para tirar a atenção das atrocidades que cometem em casa. O presidente da Turquia tem governado sob um flagelo econômico e com repressão política, mas os turcos vibram com suas vitórias militares televisionadas artisticamente. De maneira similar, os governantes de Arábia Saudita, Irã, Egito e Paquistão também escondem fracassos atrás de bandeiras nacionais vigorosamente agitadas.
O dinheiro tem seu papel. Alguns líderes oferecem armas e empréstimos para países devastados pela guerra por entender que as empresas que possuem serão as primeiras a ser acionadas nos contratos de reconstrução. Quem se beneficia financeiramente com frequência são os comparsas dos líderes, não seu povo.
A motivação final, e talvez mais importante, é que autocratas tendem a apoiar outros autocratas. Os marxistas dançarinos de mambo que governam Cuba têm pouco em comum com os austeros mulás iranianos, mas todos eles apoiam a Venezuela. Regimes sob sanções americanas fazem negócios entre si para sobreviver.
Déspotas trocam dicas a respeito de como esmagar democratas e conspirações golpistas. Às vezes, todas essas motivações se combinam. Um autocrata é capaz de acionar tropas para ajudar outro autocrata, vestir a operação de cores patrióticas e ganhar contratos de construção posteriormente, para azeitar sua máquina clientelista.
Os resultados têm sido catastróficos. Na Venezuela, ameaças de tamanho médio produziram um regime sob o presidente Nicolás Maduro tão corrupto e inepto que a economia do país encolheu 75%. Na Etiópia, armas e dinheiro de intrusos de tamanho médio deram ao primeiro-ministro Abiy Ahmed confiança suficiente para travar uma guerra franca contra rebeldes de seu país, causando dezenas de milhares de mortes e forçando a fuga de milhões de pessoas. Por todo o mundo, o enfraquecimento da dissuasão dos EUA e da garantia de segurança oferecida pelos americanos está fazendo com que países temam inimigos vizinhos tradicionais – e voltem a se armar.
Nada disso é bom para a estabilidade global. O mundo estaria mais seguro se os EUA se envolvessem mais, não menos. Mas isso é trabalho para outro líder: este se destina aos próprios intrusos de tamanho médio. Cada caso é um caso, mas a maioria desses novos países assertivos descobrirá que os custos das aventuras superam seus benefícios. Brandir poderio militar é caro e difícil de fazer efetivamente.
A Turquia ganhou glórias e território, mas se alienou de quase todos seus aliados. A Arábia Saudita está atolada no Iêmen. As missões dos Emirados Árabes fracassaram não somente no Iêmen, mas na Líbia também. Coronéis paquistaneses regozijaram-se com a precipitada retirada americana do Afeganistão promovida pelo presidente Joe Biden. O Taleban é amigável ao Paquistão e hostil em relação à Índia. Mas os novos governantes de Cabul não têm nem ideia de como governar. O Afeganistão está derretendo economicamente, e sua abordagem implacável e singular poderia provocar outra guerra bem na porta do Paquistão.
Os homens que comandam todos esses países sem dúvida veem as coisas de maneira diferente. Autocratas adoram ter inimigos externos e por vezes chegam a acreditar na própria propaganda. Então, eles continuarão suas intromissões militares. Mas autocratas também cometem deslizes com frequência, assim como as grandes potências, e no fim das contas isso pode derrubá-los.