A Tesla superou a Toyota e se tornou a montadora de maior valor de mercado do mundo na semana que marca o décimo aniversário da estreia da pioneira dos veículos elétricos no mercado acionário.
As ações da montadora de carros elétricos quintuplicaram nos 12 meses até ontem, de US$ 230 para US$ 1.100. A capitalização de mercado da companhia subiu para US$ 205 bilhões.
O valor de mercado da Toyota, segunda maior montadora individual do mundo em termos de produção, com mais de 10 milhões de veículos por ano, caiu para cerca de US$ 200 bilhões ontem, depois de suas ações negociadas no Japão terem se desvalorizado 1,5%, para 6.656 ienes.
Incluindo dívidas, o grupo japonês ainda vale mais, US$ 284 bilhões, em comparação ao valor de empresa de US$ 207 bilhões da Tesla, de acordo com a empresa de dados financeiros Sentieo.
A ascensão incansável das ações da Tesla tem desconcertado alguns analistas. O valor de mercado decolou apesar de a montadora ter produzido apenas 500 mil veículos neste ano e mal conseguido ter lucro.
Se a empresa conseguir igualar receitas e despesas no segundo trimestre, será a primeira vez em que a Tesla consegue ficar durante quatro trimestres consecutivos sem estar no vermelho.
As ações da Toyota são negociadas a valor que equivale a 16 vezes o lucro, enquanto as da Tesla têm múltiplo de preço sobre lucro de quase 220 vezes, acima de qualquer outra montadora e quase o dobro do observado em gigantes da tecnologia, como a Amazon.
Em maio, o executivo-chefe da Tesla, Elon Musk, tuitou que o valor de US$ 775 das ações da empresa era “alto demais”, mas o comentário não impediu as cotações de continuarem em alta.
Embora as ações da montadora tenham quase triplicado neste ano, o valor das montadoras tradicionais caiu em razão do impacto da pandemia da covid-19. Desde o início de fevereiro, as ações da Toyota caíram mais de 12%, uma vez que a companhia precisou fechar fábricas pelo mundo.
Em maio, a japonesa alertou para a possibilidade de queda de 80% no lucro operacional neste ano e para a previsão de que o declínio nas vendas provavelmente “seria maior do que durante a crise do Lehman [Brothers]”.
A pandemia derrubou a demanda mundial e projeta-se queda de 15% nas vendas de carros neste ano. Por outro lado, a demanda por veículos elétricos, estimulada pelas regulamentações na Europa e China, deverá continuar em alta.
As grandes montadoras também vêm lançando veículos elétricos, mas a Tesla ainda prevê aumento em suas vendas totais em meio à aceleração do mercado mundial nesse segmento.
O descolamento da Tesla em relação à onda geral de vendas de ações de montadoras é visto como uma validação dos que a veem mais como uma empresa
de tecnologia do que como uma montadora tradicional.
Um funcionário próximo ao executivo-chefe Elon Musk compara o feito de superar a Toyota ao momento em que a Amazon superou o valor de mercado do Walmart em 2015.
Na terça-feira, quando um usuário do Twitter enviou a Musk um tuíte a respeito da capitalização de mercado de US$ 200 bilhões – acompanhado de um par de emojis de copos de champanhe brindando – o executivo-chefe respondeu comemorando a marca.
A valorização, porém, surpreendeu até os mais fervorosos entre os otimistas com o futuro da empresa. Ainda em dezembro, Adam Jonas, do Morgan Stanley, que repetidamente vinha avaliando a empresa melhor do que outros analistas especializados em indústria automotiva, apresentou três cenários para 2020, projetando valorização de 50%, para US$ 500, declínio de 25%, para US$ 250, e até uma queda livre de 97%, para US$ 10.
No fim das contas, a valorização foi muito maior até que a mais otimista das previsões de Jonas.