Enquanto o Congresso dos Estados Unidos trabalha para aprovar investimentos de US$ 52 bilhões na indústria de chips americana, o fundador da Taiwan Semiconductor Manufacturing (TSMC), Morris Chang, disse considerar o plano muito acanhado para reconstruir uma cadeia de suprimentos completa no país.
Chang, um cidadão americano que fundou a empresa que agora é a fabricante de chips mais valiosa do mundo, diz que seria impossível para os Estados Unidos ter uma cadeia de suprimentos de chips completa em seu território, mesmo que gastasse muito mais – e que tal movimento pode não ser financeiramente desejável em qualquer caso.
“Se você deseja restabelecer uma cadeia completa de suprimentos de semicondutores nos Estados Unidos, não a verá como uma tarefa possível”, disse Chang em um fórum da indústria de tecnologia em Taipei na noite de terça-feira.
“Mesmo depois de gastar centenas de bilhões de dólares, você ainda descobrirá que a cadeia de suprimentos está incompleta e que terá um custo muito alto, custos muito mais altos do que o que você tem atualmente.”
Os Estados Unidos eram responsáveis por 37% da fabricação global de semicondutores na década de 1990, mas hoje essa participação caiu para 12%, mostram os dados da Semiconductor Industry Association.
Washington está fazendo campanha para trazer mais produção de chips para solo americano, em meio à preocupação com o excesso de confiança em Taiwan. O Senado dos Estados Unidos aprovou este ano um gasto de US$ 52 bilhões para apoiar pesquisa, desenvolvimento e fabricação doméstica de semicondutores, embora o pacote ainda não tenha se tornado lei.
Chang, que se aposentou da TSMC em 2018, afirmou que algumas pessoas que defendem trazer a cadeia de suprimentos de chips para seu próprio país são motivadas por interesses próprios.
O executivo-chefe (CEO) da Intel, Pat Gelsinger, defende mais manufatura nos Estados Unidos, já que “não é seguro em Taiwan e não é seguro na Coreia do Sul”, disse Chang, enquanto a Intel espera obter financiamento do pacote de subsídios de US$ 52 bilhões.
Repensar a cadeia de suprimentos será um desafio para todos, disse Chang.
“No passado, as empresas nos Estados Unidos ou na Ásia estavam crescendo e prosperando graças à globalização e ao livre comércio”, disse ele. Chang citou o livro de Thomas Friedman, “The World Is Flat”, no qual o editorialista do “The New York Times” analisa a globalização e as oportunidades que ela cria para as nações. “Bem, Thomas, o mundo não é mais plano”, disse ele. “Isso será um desafio para a indústria asiática de semicondutores e a indústria global de semicondutores, incluindo a Intel.”
Os comentários de Chang, na terça-feira, foram os primeiros em que ele questionou direta e publicamente os esforços de Washington para reconfigurar a cadeia de fabricação de semicondutores.
Sua crítica vem apesar da decisão da TSMC de construir uma instalação avançada de chips no estado do Arizona, nos Estados Unidos, em resposta à campanha do governo americano.
Anteriormente, Chang havia dito que os esforços do governo em todo o mundo para aumentar a produção de chips poderiam sair pela culatra, sem especificar quais países. Sandra Oudkirk, diretora do Instituto Americano em Taiwan e principal diplomata dos Estados Unidos em Taipei, estava entre a audiência no fórum do setor.
Europa, Japão e China também estão se preparando para aumentar a produção em casa, oferecendo ajuda governamental para garantir que os chips permaneçam em seus países.
A TSMC anunciou recentemente que a empresa construirá sua primeira instalação de chips no Japão, onde o primeiro-ministro, Fumio Kishida, disse que seu governo apoiará investimentos em larga escala do setor privado.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/10/28/plano-dos-eua-para-chips-e-muito-acanhado.ghtml