Recuperação do mercado de trabalho dos EUA será lenta e dolorosa

O relatório de emprego de abril dos Estados Unidos foi tão ruim quanto todo mundo temia. A recuperação desses empregos será lenta e dolorosa. 

O Departamento do Trabalho informou que a economia americana perdeu 20,5 milhões de empregos no mês passado, reduzindo o total de empregos na folha de pagamento em 13,5%, com a crise da covid-19 destruindo vastas faixas do mercado de trabalho. Nenhum mês da série histórica — nem mesmo setembro de 1945, quando o fim da Segunda Guerra Mundial reduziu as linhas de produção e as folhas de pagamento em 4,8% — chegou perto disso. 

A taxa de desemprego dos EUA subiu para 14,7%, nível mais alto já registrado desde a Grande Depressão, e teria sido maior se muitas pessoas, incapazes de procurar trabalho, não fossem classificadas como fora da força de trabalho. Considerando uma taxa de participação da força de trabalho igual a de fevereiro, a taxa de desemprego teria sido de 19%. Acrescente o grande número de pessoas que não trabalhavam em abril, mas que o Departamento do Trabalho acredita que se classificaram incorretamente como empregadas, a taxa de desemprego teria sido em torno de 23,5%. 

Mas ainda não passou. Embora a expectativa seja de que maio venha a mostrar um nível mais baixo de perda de empregos que o de abril, o elevado número de pedidos de seguro-desemprego das últimas três semanas, bem como um grande número de empresas anunciando demissões, sugere que o relatório de emprego desse mês poderá ser o segundo pior mês da história. 

O primeiro ponto chave para o desempenho do mercado de trabalho depois disso será qual o avanço que a economia americana fará para reabrir durante os meses de verão (terceiro trimestre). Muito disso dependerá do êxito dos esforços para controlar a pandemia. Também dependerá das escolhas que os EUA fizerem como sociedade de como equilibrar os riscos econômicos e de saúde trazidos pela crise. 

Outro ponto chave será quantas empresas estão sendo capazes de se manter. O restaurante que sobreviver poderá trazer de volta os trabalhadores demitidos. O restaurante que falir pode ser substituído em algum momento, mas levará tempo e capital antes que isso aconteça e, enquanto isso, os funcionários do restaurante falido terão dificuldade para conseguir trabalho e não poderão gastar muito — com repercussões no emprego em outro lugar. 

Estrago grande demais 

Mesmo na melhor das hipóteses, onde os esforços de mitigação são bem-sucedidos, as restrições são relaxadas, as pessoas se sentem seguras o suficiente para começar a voltar a suas vidas antigas e uma vacina é desenvolvida com uma velocidade vertiginosa, ainda assim levará anos para recuperar todos os empregos perdidos — o estrago no mercado de trabalho é grande demais. Infelizmente, não há soluções rápidas para o que o vírus fez. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/05/08/analise-recuperacao-do-mercado-de-trabalho-dos-eua-sera-lenta-e-dolorosa.ghtml

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