Queda inédita na atividade abala a economia global

A atividade econômica nos EUA, Europa e Japão desabou em abril, depois de os governos terem ampliado as restrições aos deslocamentos e à interação social para limitar a disseminação do coronavírus, segundo pesquisas feitas com gerentes de compras de empresas. 

As pesquisas divulgadas ontem indicam que os governos efetivamente congelaram as partes da economia nas quais a interação presencial é inevitável, como restaurantes e cabeleireiros, e que houve uma forte contração na atividade das partes da economia menos diretamente afetadas. 

O declínio na atividade do setor de serviços não tem precedentes na história dessas pesquisas, nem mesmo após a crise financeira global. A atividade industrial foi menos afetada. 

Segundo a pesquisa da IHS Markit, o índice de atividade composto (PMI) dos EUA, do setor privado industrial e de serviços, caiu de 40,9 em março para 27,4 em abril. Leituras abaixo de 50,0 indicam contração na atividade. O dado de abril é o menor da série histórica, iniciada em outubro de 2009. 

“A escala da queda no PMI reforça os sinais de que o segundo trimestre terá uma contração historicamente drástica na economia”, disse Chris Wiliamson, economista-chefe da IHS Markit. 

Na zona do euro, o índice de atividade composto caiu de 29,7 em março para 13,5 em abril, o mais baixo da série histórica iniciada em julho de 1998. O menor número registrado após a crise financeira global havia sido de 36,2 pontos, em fevereiro de 2009. 

 “Abril testemunhou um impacto sem precedentes na economia da zona do euro diante das medidas de confinamento para conter o vírus somadas ao forte declínio na demanda mundial e à falta tanto de funcionários quanto de insumos”, disse Williamson. 

No Reino Unido, o índice PMI composto caiu de 36,0 em março para 12,9 em abril, também o pior patamar na história. A Alemanha se saiu um pouco melhor, com o seu PMI composto caindo de 35,0 em março para 17,1 em abril. Mas as diferenças pela Europa foram pequenas e as pesquisas sinalizam que apesar de alguns países terem começado o confinamento depois de outros, as principais economias do continente acabaram, todas, na mesma situação: uma paralisação sem precedentes na atividade. 

Os declínios foram maiores do que os previstos, indicando que as contrações econômicas no segundo trimestre de 2020 poderão ser piores das que os economistas vêm prevendo. 

“Embora soubéssemos que os confinamentos estão paralisando grandes partes da economia e prevíssemos declínio nos PMIs em relação a março, a escala das quedas reveladas hoje [ontem] foi desconcertante”, disse Rosie Colthorpe, economista da consultoria Oxford Economics. 

Para o segundo trimestre, o JP Morgan prevê quedas a taxas anualizadas de 45% no Produto Interno Bruto (PIB) na zona do euro, de 59,3% no Reino Unido e de 35% no Japão. 

Segundo dados do PMI, os prestadores de serviço na França registraram a maior queda na atividade entre todos os setores 

e todos os países. O PMI de serviços da França caiu de 27,4 em março para 10,4 em abril, indicando que em várias partes do setor praticamente toda a atividade ficou paralisada. 

Outras pesquisas sinalizaram um congelamento similar das atividades na segunda maior economia da zona do euro. Pesquisa deste mês da agência oficial de estatísticas da França (Insee) apontou a maior queda na confiança entre as empresas do país desde o início dos registros em 1980, com o indicador atingindo seu ponto mais baixo na história. A Insee informou que as fábricas na França estão operando com 67% da capacidade instalada, a menor taxa desde o início dos registros em 1976. 

Governos pela Europa concluíram que fortes quedas na produção econômica são inevitáveis para que se consiga interromper a disseminação do coronavírus. O temor é que as medidas de confinamento possam provocar danos duradouros à economia, de forma que lançaram uma série de programas para auxiliar empresas e consumidores, e minimizar esse risco. 

Entre os programas está o de pagamento de salários a funcionários de licença em empresas que sofreram um colapso na receita. As pesquisas publicadas ontem indicam que, embora existam sinais de que esses programas estejam limitando uma piora no mercado de trabalho, a perda de empregos este mês já é a maior na história. 

Economistas acreditam que os números de abril serão o ponto mais baixo dos PMIs na Europa, já que alguns países, incluindo a Alemanha, começaram a abrandar as restrições e outros deverão seguir o mesmo caminho em maio. 

“Não se pode cair para sempre e uma vez que as empresas ficaram totalmente fechadas, a produção, na pior hipótese, só pode ficar inalterada no mês seguinte”, disse Simon Wells, economista do HBSC. “Além disso, com as medidas de confinamento sendo abrandadas em alguns países e as estratégias de saída sendo discutidas, algumas firmas deverão ver um aumento na produção em maio.” 

Ainda assim, alguma espécie de distanciamento social provavelmente continuará existindo por vários meses, seja por ordem do governo ou por escolha individual. Isso significa que a atividade não deverá se recuperar tão rapidamente quando caiu. 

Um problema em particular para a Europa é que os países deverão retomar as atividades em ritmos diferentes e com variações na sequência de abertura dos setores. Isso deverá atrapalhar a recuperação, umas vez que pode deixar algumas empresas sem os materiais necessários para elaborar seus próprios produtos, mesmo se tiverem permissão para fazê-lo. 

“A provável ausência de coordenação entre países, com alguns correndo para destravar suas economias antes de outros, na prática, limitará o potencial da recuperação, dada a natureza interligada das cadeias de valor na zona do euro”, escreveram economistas do Barclays em nota aos clientes. 

As pesquisas indicam ser quase uma certeza que a economia mundial entrou em recessão, com os números do primeiro trimestre do ano sinalizando quedas generalizadas na produção econômica. 

A Coreia do Sul anunciou ontem um declínio de 1,4% no PIB do primeiro trimestre em relação ao quarto trimestre de 2019, maior retração desde o quarto trimestre de 2008. 

Os EUA e a zona do euro divulgarão as prévias do PIB do primeiro trimestre na próxima semana. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/04/24/queda-inedita-na-atividade-abala-a-economia-global.ghtml

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