Pressão interna e externa fez Alemanha mudar sobre envio de armas pesadas à Ucrânia

Embora o governo da Alemanha nunca tenha se colocado explicitamente contra o fornecimento de armas pesadas para a Ucrânia, encontrou muitas razões para não permitir sua exportação.

Portanto, a notícia na terça-feira de que permitiria o envio de até 50 veículos antiaéreos blindados – um modelo usado chamado Gepard Flakpanzer – foi uma surpresa e um sinal de uma mudança potencialmente importante na política do governo, impulsionada por pressão não apenas da oposição conservadora, mas também de um grupo de legisladores da própria coalizão que forma o governo.

Ainda na semana passada, o chanceler Olaf Scholz deu a entender que o envio de armas pesadas poderia levar a uma guerra maior envolvendo a Otan.

“Não há nenhum manual para esta situação, onde você possa seguir o passo-a-passo, para saber como agir e se seremos vistos como um partido de guerra”, disse ele à revista Der Spiegel em uma entrevista publicada na sexta-feira. “Evitar uma escalada em direção à Otan é minha principal prioridade”.

Esta foi apenas uma das muitas razões dadas por que nenhuma arma pesada foi enviada até agora: o governo também disse que seus próprios militares não poderiam deixar de usar tal equipamento, e que as tropas ucranianas precisariam de muito tempo para aprender a usá-lo.

Em vez disso, o governo alemão concentrou-se no apoio financeiro e no fornecimento de equipamentos militares modernos para os aliados da Otan, que poderiam enviar suas armas para a Ucrânia.

Mas o debate percorreu um longo caminho desde o momento, pouco antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, quando o ministro da Defesa alemão respondeu aos pedidos de armas defensivas da Ucrânia anunciando com orgulho a doação de 5.000 capacetes militares.

Desta vez, a maior pressão sobre Scholz não veio do embaixador da Ucrânia na Alemanha – que não se esquivou da linguagem não diplomática ao criticar a lenta resposta do governo alemão – ou da oposição conservadora, que está em campanha antes de duas eleições estaduais – mas de legisladores dos partidos que compõem a coalizão governista.

Três legisladores de alto escalão do governo viajaram para Kiev, capital da Ucrânia, no início deste mês. Todos os três defenderam o envio de armas pesadas.

Uma delas, Marie Agnes Strack-Zimmermann, dos Democratas Livres, chegou ao ponto de questionar se Scholz – que conta com o apoio de seu partido para permanecer no poder – era um líder adequado para os tempos de guerra.

O outro partido aliado aos social-democratas de Scholz são os Verdes. Anton Hofreiter, especialista em assuntos europeus dos verdes, declarou em uma entrevista na televisão que o obstáculo para ajudar ainda mais a Ucrânia estava “no gabinete do chanceler”.

“Scholz fala sobre uma mudança nos nossos tempos, mas não a implementa suficientemente”, disse ele, referindo-se à tão discutida mudança estratégica que Scholz anunciou em um discurso ao Parlamento após o início da invasão, prometendo mais gastos militares e uma robusta política externa.

Tanto o governo quanto os legisladores da oposição estiveram envolvidos na criação de uma comissão parlamentar sobre as exportações de armas pesadas, marcada para quinta-feira.

E o anúncio de terça-feira pode ser o presságio de acordos de exportação semelhantes nos próximos dias.

A Rheinmetall, fabricante de armas em Düsseldorf, tem 100 veículos blindados de infantaria Marder usados que gostaria de exportar para a Ucrânia. A empresa também solicitou o envio de 88 tanques Leopard usados.

Um porta-voz do governo disse que uma decisão sobre os veículos blindados de infantaria será anunciada em breve. THE NEW YORK TIMES

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