Preços de moradias atingem níveis recorde nos EUA e Europa

Os preços das moradias atingiram novos patamares recorde nos Estados Unidos e partes da Europa, com os enormes estímulos fiscal e monetário ajudando os mercados imobiliários residenciais a continuarem ignorando o impacto da pandemia da covid-19. 

O preço médio das moradias já existentes nos EUA teve um aumento recorde de 23,6% no mês passado (sobre o mesmo período de 2020) para US$ 350.300, com todas as regiões do país apresentando aumento nos preços, segundo disse, nesta terça-feira (22), a Associação Nacional dos Corretores de Imóveis (NAR, na sigla em inglês). 

O mercado imobiliário residencial da Europa também vem num processo de alta, apesar da crise da covid-19. Na Holanda, os preços das moradias já existentes aumentaram 12,9% em maio, em relação ao mesmo período do ano passado, o maior crescimento desde 2001, segundo a Agência Holandesa de Estatísticas. 

O número de vendas de moradias caiu nos EUA e na Holanda, mesmo com os preços aumentando, sugerindo que a demanda está superando a oferta. O Registro de Imóveis da Holanda disse ter computado 16.126 transações com imóveis em maio, uma queda de 12,1% em relação ao mesmo período do ano passado. 

As vendas de moradias já existentes nos EUA caíram 0,9% entre abril e maio, para uma taxa anual sazonalmente ajustada de 5,8 milhões. O estoque total de moradias dos EUA, de 1,2 milhão de unidades, estava 20,6% menor do que em maio de 2020, segundo a NAR, embora 7% maior em relação a abril. 

Alguns economistas afirmam que a queda dos volumes de vendas pode ser um sinal de que o mercado de moradias dos EUA atingiu um pico, depois que a atividade no ano passado chegou ao patamar mais alto desde 2006. 

Outros acreditam que novos aumentos virão, estimulados pelas políticas do banco central. “As condições monetárias frouxas poderão elevar ainda mais os preços, podendo causar uma eventual e grande correção”, diz Adam Slater, economista da Oxford Economics. “Para os bancos centrais, nem esse resultado, nem a inflação insistentemente alta são possibilidade interessantes.” 

O aumento dos preços das moradias chamou a atenção das autoridades do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), especialmente levando em conta suas aquisições mensais de US$ 40 bilhões em títulos hipotecários de agências, que respondem por uma parcela do programa de compra de bônus de US$ 120 bilhões. 

O grupo de private equity Blackstone fechou, nesta terça-feira, um acordo para a compra da Home Partners of America, uma operadora de moradias individuais para aluguel com uma carteira de mais de 17.000 residências. 

“Cada vez mais os compradores unipessoais estão sendo espremidos para fora do mercado”, disse Kaplan em um evento promovido na segunda-feira (21) pelo centro de estudos Official Monetary and Financial Forum. “Neste estágio, estamos questionando se o mercado imobiliário residencial realmente precisa desse apoio do Fed de US$ 40 bilhões por mês.” 

James Bullard, presidente do Fed de St Louis, disse, no mesmo evento, que pode ser a hora de considerar a “retirada” das compras dos títulos de agências lastreados em hipotecas. 

O Banco Central Europeu (BCE) disse, neste mês, num relatório, que no quarto trimestre do ano passado os preços das moradias na zona do euro estavam 5,8% maiores do que no ano anterior – a maior taxa de crescimento desde a metade de 2007. Segundo a instituição, 

. O aumento dos preços e uma falta de moradias disponíveis provocaram uma indignação pública em grandes proprietários comerciais de vários países europeus. A Irlanda impôs um imposto de selo de 10% a qualquer pessoa que comprar 10 ou mais moradias num período de 12 meses, para evitar que investidores financeiros comprem grandes números de propriedades. 

Na Alemanha, a planejada fusão de 18 bilhões de euros entre a Vonovia, maior proprietária de imóveis residenciais do país, e sua concorrente alemã Wohnen, desencadeou pedidos por tetos aos aluguéis e até mesmo a nacionalização das companhias. 

O problema dos preços das moradias também despertou críticas à política monetária ultrafrouxa do BCE. Sua presidente, Christine Lagarde, foi questionada sobre isso no Parlamento Europeu esta semana. 

“Jovens e famílias de classe médias estão sendo forçados a participar de uma competição insana, pagando demais num mercado imobiliário residencial superaquecido”, disse Michiel Hoogeveen, um parlamentar holandês eurocético. “Esta é uma das consequências da criação generosa de dinheiro de vocês e dos interesses políticos baixos para manter os países mais fracos da zona do euro respirando.” 

Em resposta, Lagarde disse que “não há sinais fortes de uma bolha imobiliária alimentada pelo crédito na zona do euro como um todo”, mas ela acrescentou que há “vulnerabilidades imobiliárias residenciais” em alguns países e algumas cidades em particular. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/06/22/ft-preos-de-moradias-atingem-nveis-recorde-nos-eua-e-europa.ghtml

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