Por que o Brasil é chave para Netflix

Em seu livro “A Regra é não ter regras”, lançado nesta semana, Reed Hastings, CEO da Netflix, conta que, no Brasil, um dos mercados-chave da empresa, aprendeu que seus colaboradores valorizam aspectos como o relacionamento e a pausa para o almoço. Mas talvez o maior aprendizado da companhia por aqui tenha sido que o brasileiro gosta muito de serviços de “streaming”. 

Um estudo da empresa de redes virtuais privadas Comparitech estima que o Brasil seja o segundo maior mercado da Netflix no mundo, com 17,9 milhões de assinantes no segundo trimestre. O volume supera em 17,7% o total de 15,2 milhões de assinantes de TV paga no País, em junho, de acordo com dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e coloca o País em segundo lugar no ranking global da Netflix, atrás dos Estados Unidos, com uma estimativa de 65,2 milhões de assinantes. 

A empresa não revela dados recentes do Brasil, mas em seu balanço do segundo trimestre, registrou mais de 36 milhões de assinantes na América Latina – 29% a mais que no mesmo período do ano passado. 

O avanço dos serviços de “streaming” é uma boa notícia para as operadoras de telecomunicações. 

Este ano, o gasto do brasileiro com serviços de conteúdo na rede deve crescer 27% em relação a 2019, somando US$ 902 milhões, segundo a PwC. “A concorrência de serviços como Prime, HBO, Apple TV e GloboPlay, além da pandemia, fortaleceram o conceito de OTT (transmissão de conteúdo pela rede)”, diz Ricardo Queiroz, sócio da PwC Brasil.

O crescimento previsto para este mercado até 2024 é de 15,3% ao ano, segundo a consultoria. 

Para Hastings, a competição faz bem ao negócio de “streaming”. “O mundo precisa de uma diversidade de vozes e nós encorajamos nossos funcionários a assistirem conteúdos em outras redes e a assiná-los”, disse o executivo ao Valor em entrevista a jornalistas latino-americanos. “No fim das contas, a concorrência entre todos nós para criar ótimas histórias torna-se ainda melhor para os assinantes em todo o mundo porque gera uma forma de arte mais evoluída”, afirma o executivo. 

Além de descrever em detalhes como funcionam os princípios de ‘liberdade e responsabilidade’ que tornaram a Netflix uma empresa com US$ 212 bilhões em valor de mercado, Hastings conta sobre os desafios de adaptar a cultura criada no mercado americano a outros países. “Muitos americanos vão comer um sanduíche na mesa sozinhos, o que pode parecer estranho para os brasileiros e realmente tentamos adotar esses hábitos”, comenta. “Estamos investindo em nossos relacionamentos. Aprendemos com nossos colegas latino-americanos uma forma melhor de fazer as coisas”. 

Quando perguntado se já sabia o que queria que a empresa se tornasse mesmo quando sua proposta de ser comprada pela Blockbuster por R$ 50 milhões foi recusada em 2000, Hastings responde que sim. “Definitivamente, imaginamos estar por toda a internet. Por isso batizamos a companhia de Netflix – ‘net’ de internet e ‘flix’ da gíria americana para filmes – mesmo quando vendíamos só DVDs online. Não batizamos a companhia como ‘DVD por correio’, por exemplo”, relembra. 

Agora, a responsabilidade de Hastings é ganhar força no universo da animação com produções originais. “Há cinco ou dez anos queremos ser melhores do que a Disney, que tem a Pixar, e toda sua produção original”, comenta o executivo. 

Em outubro, a Netflix deve lançar sua primeira animação original, chamada “A Caminho da Lua”, antes da chegada do serviço de “streaming” da Disney ao Brasil, prevista para novembro. “Eles são muito bons nisso, mas queremos tentar ser melhores. Pense nisso como uma concorrência que vai tornar a criação de histórias melhor no mundo todo”. 

O livro, lançado no Brasil pela editora Intrínseca, é coescrito pela americana Erin Meyer, professora da escola de negócios Insead, em Paris, e autora do livro “O Mapa da Cultura: Rompendo os Limites Invisíveis dos Negócios Globais”, que entrevistou diversos funcionários da Netflix. 

Em entrevista ao Valor, Erin ressalta que o livro propõe um modelo novo, no lugar do que é aplicado desde a revolução industrial. “Por anos, os gestores foram treinados a minimizar erros e maximizar eficiência, mas só recentemente encontramos esta nova era em que não precisamos minimizar erros, mas aumentar a eficiência e inovar”, compara. “O Brasil, como outros países, tem muito a aprender com isso porque há diversos empreendedores buscando inovação.” 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/09/11/por-que-o-brasil-e-chave-para-netflix.ghtml

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