Ponte Rio-Délhi e o país de Macunaíma

Por Mario Rene
Ao menos uma revista semanal de grande circulação apresentou, recentemente, matéria de capa engrandecendo o Rio de Janeiro.
Engrandecendo, não. Enobrecendo.
Que Rio é esse?
Vou comentar alguns; apenas alguns dos fatos retratados pela mídia nesta última semana.
1) O estupro de uma turista dentro de uma van. Pelas investigações da polícia, ao menos três dos cinco suspeitos de tão escabroso ato já houveram praticado uma série de assaltos e estupros (!!!) anteriormente.
Bacana, né?!… E soltinhos da silva estavam eles… serelepes por aí…
Alguma analogia com o acontecimento de Nova Délhi, em Dezembro do ano passado? Eu não diria analogia, diria semelhança. E olha que aqui nós condenamos o lá ocorrido como um ato bárbaro de um país machista e atrasado, que cultua divindades em forma de elefante…
Estivemos na Índia agora em Janeiro, um grupo de professores e eu, e constatamos in loco a indignação da população com tão nojenta ocorrência. Mas, ao menos até agora, não percebi o mesmo clamor popular por aqui, nem mesmo uma, digamos assim, indignação coletiva.
Estamos anestesiados?
Diz-se que na Índia um estupro é cometido a cada dezena de horas.
No Brasil, da Copa e Rio das Olimpíadas, é… diferente?
2)Um universitário (…) mal humorado, com antecedentes de violência física, desfere um pontapé no rosto de um motorista de ônibus, que já houvera sido flagrado em excesso de velocidade, cujo coletivo acumulava 40 multas de trânsito.
Consequência: despenca do viaduto e sete passageiros morrem, afora os feridos.
No Brasil da Copa e Rio das Olimpíadas.
3)“Descobriu-se”, recentemente, que a cobertura do novíssimo estádio João Havelange (o “Engenhão”), possui sérios problemas de estrutura, podendo ruir com rajadas de vento acima de 60km/hora.
O estádio não tem uma década de vida. E a cobertura já poderia ter ruído, provocando um acidente de proporções ciclópicas.
Tudo isso no país da Copa e Rio das Olimpíadas.
E aí? O Rio… “…continua lindo”?
4)O “fecho da ópera”.
O Maracanã, que vai consumir mais de um bilhão de reais em sua reforma (O dobro do previsto inicialmente…),após ser utilizado na Copa, terá de ser…
… reformado.
Para atender aos padrões dos… Jogos Olímpicos.
Isso no Rio das Olimpíadas.
O que, evidentemente, não poderia ter sido planejado antes, pelos “gênios de plantão”, não é mesmo?
Cada vez mais me convenço de que vivemos no país de Macunaíma, o anti herói:
“Por fora, bela viola.
Por dentro, pão bolorento”.
E que estamos todos nós, ficando cada vez mais anestesiados.

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