Peru elege terceiro presidente em uma semana

O deputado Francisco Sagasti foi escolhido ontem como novo presidente do Peru. Sua eleição foi feita por membros do Congresso um dia depois da renúncia do presidente interino, Manuel Merino. Terceiro presidente do país em uma semana, Sagasti tem perfil mais técnico que político, afirmam analistas. Não está claro, contudo, se ele conseguirá conter a recente onda de protestos no país. 

A chegada de Sagasti à Presidência ocorre no momento em que o Peru vive uma das mais graves crises políticas de sua história recente. Na semana passada, o Congresso aprovou o impeachment do presidente Martín Vizcarra, acusado de corrupção. Merino, então presidente do Congresso, assumiu a Presidência peruana. Após cinco dias de manifestações contrárias ao afastamento de Vizcarra, nas quais duas pessoas morreram, Merino renunciou no domingo. 

É incerto se o governo de Sagasti trará a estabilidade necessária para acalmar as ruas. “Sagasti é membro do Partido Morado, o único que votou contra o afastamento de Vizcarra. Isso pode trazer uma certa legitimidade ao seu governo diante dos manifestantes”, afirma Nicolás Urrutia, da consultoria Control Risks. 

Sagasti, de 76 anos, é visto como um técnico de inclinação ortodoxa, mas sem muita experiência em cargos eletivos. Formado pela Universidade Nacional de Engenharia, em Lima, tem doutorado pela Escola de Negócios Wharton, da Universidade da Pensilvânia (EUA). Lecionou na Universidade do Pacífico, na Pontifícia Universidade Católica do Peru e em países como EUA, Espanha e Costa Rica. 

Ele chegou ao Congresso pelo Partido Morado em março deste ano, para o mandato que vai de 2020 a 2021. Antes de ser eleito para o Congresso, havia desempenhado diversos funções no setor público e também em organismos como o Banco Mundial. 

“Seu perfil o diferencia dos políticos tradicionais do Peru, que têm má reputação. Isso, no curto prazo, pode lhe dar uma certo respaldo”, afirma Urrutia. 

No médio, prazo, no entanto, há dúvidas se seu governo ficará refém do Congresso e se será capaz de acalmar os mercados. Ontem o sol peruano caiu 0,7% e chegou a 3,67 por dólar, seu menor nível. Bônus peruanos que vencem em 2050 caíram 2,3 centavos e tiveram um dos piores desempenhos entre os emergentes, segundo a Bloomberg 

Sagasti tem a tarefa de transmitir confiança e afastar suspeitas de uma agenda populista nos próximos meses, quando o Peru se prepara para a eleição presidencial de abril, diz Nicholas Watson, da consultoria Tenho. “Em geral, presidentes peruanos têm sido pragmáticos, como Alan García, de direita, e Ollanta Humala, de esquerda. Mas a crise de covid-19 pode alterar esse padrão”, diz. “Se a crise política não for solucionada e o populismo for o caminho escolhido, as chances de uma crise financeira não estão descartadas.” 

Nesse cenário de alta volatilidade, acrescenta, o sentimento dos investidores pode se deteriorar e minar a recuperação em 2021. 

Em nota a clientes na manhã de ontem, economistas do banco Citi disseram que a eleição de Sagasti pode ser suficiente para acalmar o mercado, mas “tensões devem permanecer altas por ora”. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/11/17/peru-elege-novo-presidente-e-tenta-conter-protestos.ghtml

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