Pequim ordena que bancos apoiem mais os exportadores

O órgão regulador bancário da China ordenou aos bancos que aumentem os empréstimos para projetos de infraestrutura e empresas exportadoras. Com isso, Pequim busca reforçar a confiança econômica às vésperas de uma nova rodada de negociações comerciais com os EUA.
Negociadores comerciais chineses liderados por Wang Shouwen, vice-ministro do Comércio, são esperados em Washington para dois dias de negociações que começam nesta quarta-feira. Esta será a primeira discussão formal entre as partes desde que Washington impôs tarifas punitivas às exportações da China em julho, como resposta ao suposto roubo de propriedade intelectual.
Desde que as tarifas foram anunciadas em 6 de julho, a moeda e os mercados de ações da China vêm sofrendo perdas, refletindo o nervosismo do investidor com a desaceleração do crescimento e o impacto no longo prazo da guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.
O índice benchmark CSI 300, que reúne as maiores empresas negociadas nas bolsas de Xangai e Shenzhen, caiu mais de 15%.
A pressão também está crescendo sobre o yuan, que no mesmo período caiu quase 7% em relação ao dólar, para a mínima de 6,93 em 15 de agosto. A moeda se recuperou um pouco desde que o Banco do Povo da China (PBoC, banco central chinês) introduziu medidas para reduzir a capacidade dos investidores de apostar na desvalorização da moeda.
Recentemente, o governo chinês tomou medidas para aumentar o investimento, mas evitou introduzir medidas extraordinárias de estímulo, uma vez que ainda mantém a campanha para conter o risco do setor financeiro.
Em um comunicado divulgado no fim de semana, a Comissão Reguladora de Bancos e Seguros da China recomendou que os bancos do país, a maioria estatais, apoiem projetos de infraestrutura e empresas que estejam enfrentando “dificuldades temporárias”. O regulador acrescentou que as instituições financeiras devem “efetivamente promover empregos estáveis e estabilizar o comércio exterior e o investimento”.
O CSI 300 está no seu nível mais baixo desde agosto de 2016, quando uma série de erros de política do governo e do banco central abalou os mercados de ações e a moeda do país.
“Em 2015 e 2016, os problemas do governo chinês foram auto-infligidos”, disse um estrategista de investimento que pediu para não ser identificado. “Desta vez, os problemas que enfrentam são resultado do ambiente econômico doméstico e da fricção comercial, e não por erros políticos”.
Até agora, apenas 10% das exportações anuais da China para os EUA foram afetadas por tarifas punitivas, mas o presidente Donald Trump recentemente ameaçou impor tarifas sobre metade de todas as exportações chinesas para os EUA até o fim de outubro.
Em um tuíte no sábado, Trump insinuou que continuaria a pressionar a China, enquanto atacava a investigação em curso sobre os supostos vínculos de sua campanha presidencial com agentes russos. “Todos os tolos que estão tão focados em olhar apenas para a Rússia devem começar a olhar em outra direção, a China”, tuitou Trump.
Pessoas próximas às autoridades chinesas dizem que Pequim tem baixas expectativas em relação ao encontro desta semana de Wang com o subsecretário do Tesouro dos EUA, David Malpass, depois que três rodadas anteriores de negociações comerciais, em maio e junho, terminaram em fracasso. “As autoridades chinesas estão preocupadas porque não conseguem ver o fim do túnel”, disse uma fonte.
Embora um yuan mais fraco atenue o impacto das novas tarifas dos EUA sobre as exportações chinesas, o PBoC teme uma possível retomada da fuga de capitais se a moeda continuar a cair de forma acentuada em relação ao dólar. As reservas cambiais da China aumentaram em julho pelo segundo mês consecutivo, para US$ 3,12 trilhões, o que significa que no mês passado o PBoC se absteve de intervir para apoiar a moeda.

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