Paulo Vanzolini, um estilo de vida

Por Pedro de Santi

Hoje pela manhã, recebemos a notícia sobre a morte de Paulo Vanzolini, aos 89 anos. Com a velocidade que caracteriza o jornalismo e a internet, muito já se noticiou, muito se compartilhou. Eu mesmo, já compartilhei umas duas canções pelo Facebook.
Muita gente nova não sabe de quem se trata, mas fiquei surpreso e feliz vendo quantos jovens reagiram a isto. Meus sobrinhos, inclusive, na faixa dos vinte anos. Alguns mais velhos podem ter se surpreendido pelo contrário: nem sabiam que o compositor de “Ronda”, “Volta por cima” e “Praça Clovis” ainda estava vivo. É um dos grandes da antiga, afinal.
Como toda a parte biográfica já vem sendo amplamente difundida, achei que valia um comentário mais específico sobre uma canção e o estilo de vida do compositor. Para postar canções, escolhi as gravações da Cristina Buarque, uma das intérpretes favoritas do próprio Vanzolini. A Voz é “chinfrim” como a do irmão, mas é isso mesmo que lhe dá uma dolência e rouquidão tão apropriada para cantar a noite paulistana. Uma amiga logo curtiu e comentou: experimente ouvir tal canção na voz da Monica Salmaso. Admiro muito a Mônica e vou querer ouvir, mas são lirismos diferentes. A imperfeição da Cristina é mais a cara do compositor.
Abaixo, a letra de uma canção menos conhecida do que aquelas que citei acima, “Falta de mim”:
Vendo-te assim
Com os puros sinais da falta de mim
Em pleno apogeu
Morrendo de tédio e o remédio sou eu
Eu que estou sempre perto
E só quero por certo ser seu
Mas você não quer nada
Desorientada, só quer apogeu.

Diz que chegou onde quis, graças a Deus
E o sucesso é o que deseja
E estranhe que amargue a boca que já não me beija
E ardam em seco os olhos sem os meus
Da muita raiva que tem
Leva essa farsa até o fim
Mas traz escrita na testa a falta de mim.

Alguns dos temas caros ao compositor estão aqui. Há um orgulho sábio e discreto em saber que afinal, é dele que ela sente falta e é ele que a poderia curar; de toda maneira, ela se perde numa farsa em busca do apogeu. Lá onde existe fama, visibilidade, sucesso. Ambivalência, alienação e desamor, consciência e raiva de si. O leque de afetos é um bocado amplo para duas estrofes num aparentemente simples sambinha. Coisa fina.
Seu valor é grande e verdadeiro, mas escondido sobre uma comédia de erros e vaidade. Este era o grande e discreto Paulo Vanzolini. Trabalhando até há pouco diariamente no laboratório de zoologia e, por bom gosto e preferência, longe dos holofotes, relativamente esquecido

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