Regina Ferreira da Silva
Vladímir Sorókin, um escritor russo que participou da Flip, está lançando o livro “Dostoievski-Trip. Lerei certamente, pois considerei a sua fala muito lúcida, crítica e provocadora. O seu humor é finíssimo.
Logo no início, ao definir literatura, ele disse: A literatura é um tiro silencioso que o atinge. Você não escuta o tiro, mas a bala o atinge, muda você e o mundo à sua volta. Essa imagem para definir a literatura é no mínimo perfeita, pois o gesto de escrita e de leitura, em geral, são feitos em situações silenciosas, mas o que ocorre na mente do autor e do leitor é fundamentalmente transformador.
Quando perguntaram a ele o que achava do cinema ele respondeu: o cinema é uma possibilidade de trocar a telha do escritor. Essa resposta revela uma forma peculiar de apontar a diferença de linguagem existente entre as duas formas de arte. Uma mais introspectiva e outra que abre a “telha” do escritor para novas possibilidades de olhar para o mundo. Ambas podem ser integradas e dialogar de forma criativa.
A respeito da literatura russa, especificamente, o autor destacou o humor como uma possibilidade de olhar para a realidade. Segundo ele, o russo usa o humor como se fosse a última piada da vida. Há sempre um sabor amargo.
O trecho do livro que ele leu na sua apresentação comprova que o seu humor tem um sabor amargo ao tocar na situação dolorosa vivida pelos seus personagens. Isso torna o texto poético, provocador e instigante.
No final da apresentação perguntaram a ele como a política aplicada por Puttin na Rússia pode se relacionar ou interferir na literatura. Aí ele respondeu: Puttin vem e vai, a literatura fica. Genial.