O grande olho no céu

Aníbal Azevedo, Diretor do Intergraus Vestibulares

Em 1608, o holandês Hans Lippersheim causava sensação; juntando lentes a um canudo pintado internamente de preto, percebeu que era possível trazer à vista objetos distantes. Muita gente se interessou pela traquitana; os exércitos, por exemplo, logo a adotaram, interessados em bisbilhotar o horizonte, procurando antecipar manobras adversárias. Em pouco tempo a luneta holandesa difundiu-se pela Europa. Um dos que adotaram a novidade foi o professor de matemática, nascido em Pisa, em 1564, Galileu Galilei. Ele dava aulas em Pádua, quando resolveu construir um daqueles instrumentos de enxergar longe de que tinha notícia; arrumou um par de lentes (uma convexa, outra côncava) e instalou-as dentro de um tubo. Após alguma tentativa e erro, ajustou a distância entre elas, de modo a obter imagens nítidas. Galileu, no entanto, não procurava conhecer a movimentação dos exércitos, nem a intimidade dos vizinhos; em lugar disso, apontou o instrumento para o céu. Vislumbrou então aquilo de que ninguém suspeitara antes: crateras e planícies na Lua; quatro novas luas a rodearem o planeta Júpiter; manchas na face do Sol; por cima de tudo, uma enormidade de estrelas.

As descobertas de Galileu afrontaram as doutrinas acerca da constituição das esferas celestes. Até então, acreditava-se que o universo fosse constituído pela Terra, centro da imperfeição e da efemeridade sublunares, rodeada pelo resto do sistema solar a girar em órbitas circulares perfeitas, contra um fundo de estrelas fixas e eternas.

Para estudar um universo que extrapolava o senso comum e as Escrituras, eram necessários meios ainda mais sofisticados. Em 1668, Isaac Newton construiu o telescópio refrator, que, para formar a imagem, emprega um espelho parabólico, em vez de lentes; é o modelo de telescópio ótico adotado até hoje para observação astronômica.

Quanto mais ampla a área espelhada, mais fótons encaminha para a ocular. O avanço na construção de espelhos curvos levou à produção de instrumentos cada vez maiores. Com isso, pôde-se visualizar objetos extremamente tênues. Willian Herschel montou vários grandes telescópios e, com eles, descobriu o distante planeta Urano, em 1781. No início do século XX, inaugurou-se um teles¬cópio sobre o monte Wilson, nos Estados Unidos. Ele possuía refletor de 1,5 m de diâmetro. Em 1948, também nos Estados Unidos, entrou em operação o telescópio do monte Palomar, dotado de espelho de cinco metros de diâmetro; o sistema ótico, incluindo suportes e motores, pesava 540 toneladas.

Telescópios modernos possuem espelhos de mais de dez metros de diâmetro. No entanto, de pouco valem se, ao atravessar a atmosfera para chegar a eles, a pálida luz das estrelas enfrenta lentículas de umidade, turbulências térmicas e o halo da iluminação urbana. Para minimizar as distorções, os gigantescos instrumentos acabam privilegiando locais áridos, altos e ermos, como o deserto do Atacama, no Chile, ou as montanhas vulcânicas do Havaí.

Por tudo isso, os astrônomos sonhavam com um olho no céu, para além da atmosfera. E ele chegou em 1990, com o lançamento do telescópio Hubble (falecido em 1953, o astrônomo americano Edwin Hubble descobriu que o universo vai além da Via Láctea e continua se expandindo). O instrumento foi posto em órbita, a uma altura de 560 quilômetros, libertando-se assim, da venda atmosférica.

No início, devido a uma irregularidade na curvatura do espelho, o telescópio produzia imagens fora de foco (ao custo de dois bilhões de dólares!). Em 1993, astronautas visitaram o Hubble e instalaram uma lente corretora; as novas imagens eram deslumbrantes. Outras quatro missões da Nasa acrescentaram diferentes tipos de câmeras e sensores ao telescópio. Durante esses 25 anos no espaço, o Hubble revolucionou nossa compreensão da Astronomia e da Cosmologia. Agora, ele não será mais consertado ou incrementado; em 2018, sobe seu poderoso sucessor, o James Webb.

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