Faz um quarto de século que o governo americano abriu pela última vez um grande processo antitruste como este agora movido contra o Google. Naquela época, do outro lado estava a Microsoft. Antes, nos anos 1980, foi a gigante de telecomunicações AT&T. Em finais dos 60, a IBM. A experiência passada revela algo: tais processos duram anos, imobilizam as empresas neste período e, mesmo quando ganham, as transformam.
O governo americano acusa o Google de ter forçado um monopólio sobre o sistema de buscas, pagando para que plataformas adotassem seu serviço como padrão. A empresa nega: diz que a sua é a melhor busca e foi escolhida pelos consumidores.
O problema é mais complexo: na internet ocorre algo chamado efeito de redes. Quanto mais gente usa um serviço — quanto maior a rede que ele forma —, melhor o serviço. Vale para uma rede social, vale para uma busca. Se muita gente a usar, seus resultados serão mais refinados que os outros. Sim: a internet tende ao monopólio.
Mas leis antitruste não servem tanto para combater monopólios e sim para evitar que sejam abusados. A leitura que o governo americano faz é de que, ao atrelar publicidade à busca, o Google extinguiu o oxigênio de todo um ecossistema que antes havia. O que criou, porém, é uma rede particularmente intrincada e difícil de desarticular.
Não se trata de simplesmente dividir uma empresa, a tradicional solução do antitruste. Que solução busca, portanto, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos?
E, dentro do Google, o problema tampouco é simples. Se ocorrer lá o que ocorreu nas concorrentes antes, seus principais executivos serão obrigados a botar toda a atenção na defesa deste processo nos próximos anos. Serão anos de inovação reduzida, inevitavelmente.
Aliás, o próprio Google surgiu no vácuo de quando a Microsoft não olhava para coisas como busca preocupada em não ser quebrada pelo governo.
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