THE NEW YORK TIMES – As pessoas que controlam as alavancas da economia japonesa estão em uma situação difícil: as baixas taxas de juros do país, que há muito tempo são usadas para impulsionar o crescimento, agora estão bem defasadas em relação a outras grandes economias. É difícil preencher essa lacuna.
O iene está em um nível quase recorde de baixa em relação ao dólar americano, ameaçando infligir uma inflação prolongada ao Japão, que durante anos sofreu o problema oposto. Porém, se os formuladores de políticas de Tóquio afrouxarem demais o controle, e as taxas subirem demais, eles poderão forçar o aumento dos custos dos empréstimos para as empresas e os consumidores japoneses e causar estragos nos mercados financeiros.
Na terça-feira, 31, o Banco do Japão, banco central do país, tentou resolver o problema, anunciando uma política que visa a aumentar os rendimentos dos títulos. O banco disse que usaria 1% como ponto de partida para os rendimentos dos títulos públicos de dez anos, em vez de um teto, afirmando que esperava que a inflação fosse mais alta do que acreditava anteriormente.
Em julho, o banco anunciou que permitiria que esses rendimentos ficassem acima de 0,5%, que era o teto da instituição. As decisões do Banco do Japão, lideradas por seu presidente, Kazuo Ueda, repercutem em todo o mundo, especialmente nos mercados americanos. As taxas de juros nos Estados Unidos estão bem acima das do Japão – os rendimentos das notas do Tesouro dos EUA de dez anos ultrapassaram brevemente os 5% em setembro, um nível não visto desde 2007.
As taxas nos Estados Unidos subiram desde que o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, iniciou um esforço sustentado para controlar a inflação provocada por um ressurgimento econômico após a pandemia do coronavírus. Espera-se que, nesta quarta-feira, 1º, o Fed permaneça firme com as taxas já em um nível máximo de 22 anos.
Com taxas tão altas, os investidores japoneses – e muitos outros – compraram títulos do Tesouro para tirar vantagem. O Japão é agora o maior detentor estrangeiro da dívida do governo dos EUA, de acordo com dados oficiais.
As taxas de juros dos títulos públicos são usadas como referência para muitos outros tipos de dívida, inclusive hipotecas, cartões de crédito e empréstimos comerciais. O custo do empréstimo ajuda a determinar o crescimento de uma economia.
Os bancos centrais são os guardiões. Eles alteram as taxas de juros para cima e para baixo principalmente por meio da venda e compra de títulos públicos. A compra de títulos aumenta seu valor, ou preço, e reduz seu rendimento, ou pagamento. Vendê-los diminui seu valor ao colocar mais deles no mercado; quando seus preços caem, seus rendimentos sobem.
Ao se acumularem em títulos do Tesouro dos EUA, os investidores japoneses aumentaram a demanda por dólares e contribuíram para a queda do iene. Como resultado, este ano, o Banco do Japão foi forçado a sustentar o iene e, ao mesmo tempo, tentar manter as taxas de juros baixas.
Ao permitir que os rendimentos dos títulos públicos subam, o Banco do Japão está devolvendo parte da atratividade de sua dívida interna, esperando que isso impulsione a demanda e fortaleça o iene, em detrimento do dólar. Os Estados Unidos são a maior economia do mundo, e o Japão, a terceira, e suas moedas estão entre as mais negociadas.
Na semana passada, o iene caiu para seu nível mais fraco em relação ao dólar desde outubro de 2022, e depois se recuperou na segunda-feira, 30, com o surgimento de rumores de uma possível mudança na política do Banco do Japão. O iene enfraqueceu inicialmente após o anúncio de terça-feira.
A decisão do banco central ocorre em um momento crucial para os mercados globais. A instabilidade geopolítica – guerras na Europa e no Oriente Médio e políticas comerciais protecionistas das principais economias do mundo – aumentou o nervosismo de que um aumento repentino nos rendimentos dos títulos do governo dos EUA, que sustentam os custos de empréstimos para consumidores e empresas em todo o mundo, poderia ameaçar a resistência da economia.
A decisão do Banco do Japão pode ampliar alguns desses temores nos Estados Unidos, especialmente se levar a uma mudança perceptível na demanda por títulos do Tesouro entre os investidores japoneses, o que poderia elevar ainda mais os rendimentos dos EUA.
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