Nos EUA, bicicletas elétricas ganham mercado pós pandemia

Nos EUA, a maioria das pessoas está entrando em uma nova fase do padecimento da pandemia: a adaptação. E muita gente se pergunta sobre como conviver com esta nova realidade. Para muitos americanos, a solução está em parte na compra de uma bicicleta elétrica. Este veículo de duas rodas movido a bateria tornou-se uma alternativa para quem trabalha fora de casa e não acha prudente usar o transporte público ou chamar um Uber. Além disso, as e-bikes, como tem sido chamadas por aí, proporcionam ainda uma lufada de ar fresco após meses de confinamento.

Por isso, não surpreende que hoje seja tão difícil encontrar no mercado as novas bicicletas elétricas quanto uma garrafa de álcool em gel, há algumas semanas. Em março, as vendas da categoria registraram um salto de 85% em relação a um ano antes, segundo a empresa de pesquisa NPD Group. Varejistas como Amazon, Walmart e Specialized esgotaram a maioria dos modelos em estoque. E até marcas menores como Ride1Up e VanMoof têm listas de espera.

Trata-se de uma mudança considerável. Durante muitos anos, as bicicletas elétricas carregaram o estigma de serem veículos para gente preguiçosa e idosa. Elas são movidas por uma bateria e um motor que torna consideravelmente mais fácil pedalar. Para acelerar, basta pressionar um botão, transformando um passeio extenuante em uma corrida gostosa. “Acreditei que as bicicletas elétricas mudariam completamente as cidades do mundo todo nos próximos dez anos. Parece que, com a crise atual, de repente isto estará acontecendo no daqui a três ou quatro meses”, disse Taco Carlier, diretor executivo da VanMoof, sediada em Amsterdã.

Se você pensa em comprar uma destes bikes, deve considerar antes suas vantagens e desvantagens. Por exemplo, a bateria e o motor são volumosos. Por outro lado, o modal chamam também a atenção dos ladrões.

Para descobrir o que eu compraria com o meu dinheiro, nas duas últimas semanas testei duas bicicletas elétricas nas ruas e nas subidas íngremes de San Francisco. A Van Moof S3 custa US$ 2 mil, enquanto a Série 700 da Ride1Up sai por US$ 1,5 mil. A primeira é conectada com a internet e tem uma série de inovações. A segunda, mais se assemelha a uma bicicleta comum com uma bateria e um motor. Depois dos testes, estou totalmente fascinado. As bikes elétricas são para pessoas que querem se movimentar rapidamente com o mínimo esforço – ou seja, grande parte da população. Aqui está o que você precisa saber. 

Comparando as elétricas

Estas bicicletas são produzidas com formas e características variadas. Também variam consideravelmente em matéria de preços. Algumas custam poucas centenas de dólares, outras dezenas de milhares. Em geral, porém, elas se dividem em dois tipos:

 Bicicletas elétricas com assistência do pedal: Elas usam um sistema de motor e sensores para detectar a velocidade ou a fadiga com que você pedala e determinam quanta potência devem oferecer. Portanto, se você pedala com dificuldade ou devagar em uma subida, o motor usará mais potência para ajudá-lo. Entre as marcas conhecidas estão a Trek, Specialized e Fuji.

– Bicicletas elétricas dotadas de acelerador: funcionam como o acelerador duplo de uma motocicleta. Para acelerar, basta pressionar um gatilho ou torcer uma manopla do guidão. Muitas bicicletas modernas do gênero dotadas de acelerador também têm a assistência do pedal. As marcas são Rad Power, Luna Cycle e Aventon.

Durante duas semanas, usei alternadamente a VanMoof e a Ride1Up, Elas têm exatamente o preço certo de acordo com o que se paga: US$ 1,5 mil compram uma bela bicicleta, mas que pede tempo para o usuário se acostumar com ela. Os US$ 500 a mais, porém, pagos numa VanMoof, garantem ao dono um veículo mais inteligente e extremamente simples de usar.

O sistema do motor da VanMoof faz com que pedalar se torne um movimento mais natural e suave, como andar em uma bicicleta comum, mas com aquele empurrão. O motor é muito silencioso, e em certos momentos esquecia de estar andando em uma elétrica. Nas áreas em que pedalar se tornava mais cansativo, como nas subidas, bastava apertar o turbo para deslanchar. Já a Ride1Up é menos intuitiva, com vários níveis diferentes, que demoram para que o usuário entenda – até conseguir isso, quase sofri alguns arranhões. 

As desvantagens

Testar duas bicicletas ajudou a destacar suas vantagens e desvantagens. A primeira é que elas são pesadas. A Van Moof tem mais de 18 quilos; a Ride1Up, quase 25 kg. É mais que o dobro do peso de uma bicicleta normal, que giram em torno dos 10 kg. Se você precisa carregar sua bicicleta por vários lances de escada, isso é algo a se pensar. 

Além disso, a manutenção pode ser complicada. A VanMoof e a Ride1Up dizem que suas bicicletas foram projetadas para que o usuário possa contar com a assistência. Toda bicicletaria também deveria ser capaz de obter as peças menores, como pedais e pecinhas dos freios. Mas com as bikes elétricas em geral, você pode precisar de ajuda do fabricante se houver um problema maior. É mais seguro comprar a bike em uma loja local que ofereça assistência.

Elas também podem atrair ladrões. Estacionar uma VanMoof me deixou ansioso. Sempre que colocava a trava, chamava a atenção dos transeuntes – ela parece um produto de tecnologia com um design elegante. Um porta-voz da VanMoof disse que mensalmente são roubadas até 20 de suas bicicletas no mundo todo, e que 70% são encontradas no prazo de duas semanas. Por isso, certifique-se de ter um seguro de residência que cubra o roubo eventual. (A VanMoof oferece um seguro de três anos por US$ 340.)

Outro ponto complicado é que as baterias são caras. Assim como os smartphones, as bicicletas elétricas usam baterias que se esgotam e precisam ser substituídas. Com o uso regular, as baterias da VanMoof e da Ride1Up podem se esgotar em três a cinco meses. A substituição custa cerca de US$ 350.

Mas as vantagens superam as desvantagens

Apesar de algumas desvantagens, minha experiência com as bicicletas elétricas me fez constatar que os benefícios são muito maiores do que as desvantagens. O mais importante é que estas bicicletas fizeram com que eu deixasse o carro de lado. Sempre que eu tinha uma razão para sair de casa – como ir até o mercado ou levar alguma coisa na casa de um amigo –, preferi andar de bicicleta.

Isto deverá tornar-se cada vez mais importante nos próximos meses. À medida que as lojas reabrirem, os Centros para a Prevenção e o Controle de Doenças aconselharam que quem precisa de carro para trabalhar deve viajar sozinho. Uma bicicleta elétrica poderá ser fundamental para escapar do pesadelo do trânsito.

Há outro benefício importante em tempos difíceis. As bicicletas elétricas alegram a gente. Não seria fã da bicicleta em São Francisco, só com uma bicicleta elétrica. Prestei muito mais atenção no ambiente externo do que normalmente prestaria, mantendo uma distância segura das pessoas. Muito melhor do que ficar horas na Netflix. Por isso provavelmente comprarei uma bicicleta elétrica logo, mesmo que tenha de ficar em lista de espera. Acho que todos nós poderíamos desfrutar de um pouco mais de alegria.

https://link.estadao.com.br/noticias/geral,nos-eua-bicicletas-eletricas-ganham-espaco-no-novo-normal,70003331601

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