Não é fácil para cidades chinesas fabricantes de aço virarem verdes

Passaram-se mais de sete anos desde que Pequim declarou guerra à poluição. Até agora, vinha sendo uma guerra de mentirinha: muito discurso e pouca ação. Uma ofensiva fiscalizadora contra a indústria siderúrgica, altamente poluente, vem mudando isso. As consequências para as siderúrgicas chinesas poderiam ser graves. 

A HBIS, segunda maior siderúrgica da China, fechou suas usinas em Tangshan, o centro de produção de aço da província de Hubei. Isso provocou dezenas de demissões. Foi uma reação do grupo às restrições impostas pelas autoridades na cidade, no norte da China. Os governos locais sofrem intensa pressão para ajudar Pequim a ter um começo promissor em seus planos de alcançar a neutralidade de carbono no longo prazo. Tangshan ordenou cortes na produção de 30% a 50% da capacidade até dezembro. 

Uma redução similar na produção de aço bruto para o resto da China significaria um corte de até 550 milhões de toneladas, com base na produção de 2020, de 1,1 bilhão de toneladas.

Isso teria forte impacto na produção mundial. A China é o maior produtor de aço bruto no mundo, com 59% do mercado. Os preços do aço já vinham apresentando alta acentuada. Os estímulos governamentais a projetos de infraestrutura eram o motivo. As ações dos produtores chineses de aço como a Baoshan acumularam grande valorização em 12 meses, refletindo a expectativa de preços mais altos. 

Ontem, o preço para entrega futura do vergalhão atingiu seu maior patamar histórico. Ninguém acredita que os cortes na produção serão tão rápidos e profundos. O problema para os produtores locais é que eles cobram baixos preços e têm baixas margens de lucro, de forma que dependem de altos volumes para cobrir os custos operacionais. 

O lucro líquido da HBIS com ações negociadas caiu mais de 30% em 2020, mesmo com aumento dos preços. É difícil que as siderúrgicas de baixas margens consigam usar suprimento de minério de ferro mais caro e de melhor qualidade ou fazer pesquisas para produzir emitindo menos carbono. 

Na busca pelo aço que possa construir o mundo sem destruir o planeta, os produtores japoneses e sul-coreanos de aço de alta qualidade estão com a vantagem. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/04/27/nao-e-facil-para-cidades-chinesas-fabricantes-de-aco-virarem-verdes.ghtml

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