A Belt and Road Initiative (BRI) se aproximou do coração da Europa dividindo opiniões. Eixo central da diplomacia econômica chinesa, a BRI gera atração e receio; entusiasmo e crítica. Apesar de parâmetros pouco claros, fala-se de pelo menos US$ 1 trilhão em projetos de infraestrutura incluindo energia, ferrovias, rodovias, portos e conexão digital, implementados com financiamento chinês e em grande parte por empresas chinesas. Países interessados em contar com recursos chineses para enfrentar gargalos de infraestrutura dão as boas-vindas ao “projeto do século”, tal como chamado por Xi Jinping. Os que temem a ascensão da China veem a iniciativa como parte de uma estratégia geopolítica para aumentar sua influência no mundo, e não apenas no campo econômico. A verdade é que muitos hesitam entre essas duas visões, e a notícia do ingresso da Itália na BRI é um chamado à reflexão. Mesmo que a BRI já conte com mais de 100 parceiros, a Itália é o primeiro país do G7 a se juntar ao grupo. À medida que a BRI se move em direção ao Ocidente e a economias maiores, os chineses redobram esforços para vencer resistências, especialmente em tempos de nacionalismo econômico e de maior controle sobre o investimento estrangeiro. A tarefa da China será facilitada: 1) se houver mais transparência em relação à BRI de forma geral e aos seus projetos específicos; 2) se preocupações trabalhistas e ambientais forem incorporadas aos projetos; 3) se houver processos sérios de diligência prévia em relação aos investimentos; 4) se houver processos licitatórios competitivos e transparentes, viabilizando a participação de empresas locais nos projetos e 5) se a sustentabilidade da dívida dos países parceiros for uma preocupação efetiva da BRI. Os mais críticos da iniciativa falam da armadilha do endividamento como algo intrínseco à BRI –como se a China desejasse transformar os parceiros em devedores com o objetivo deliberado de exercer maior influência sobre eles. Paranoias à parte, a China precisa lidar com essas críticas para convencer países maiores. Mas talvez a maior dificuldade que os chineses têm à frente seja a de lidar, especialmente fora de sua área de influência imediata, com a resistência ao desconhecido, com o desconforto com o diferente e com a desconfiança em relação às intenções chinesas e ao modo de a China operar. A realidade é que o mundo ainda está se adaptando à emergência da China como potência mundial, como polo alternativo de poder. Esse possivelmente é o principal desafio para as ambições globais da BRI. Os objetivos da diplomacia econômica chinesa se assemelham aos das potências tradicionais, como EUA e União Europeia, em relação aos quais a resistência costuma ser muito menor. Naturalmente, a China tem sua própria visão de mundo, tem sua maneira de atuar –o que não é ruim em si, mas é distinto e isso causa suspeição. Apesar do rápido avanço da BRI, ainda está em curso a missão de convencer o mundo de que a iniciativa interessa efetivamente aos parceiros, e não apenas à China. Para países que precisam de investimentos e que têm gargalos importantes de infraestrutura, seria um desperdício não considerar seriamente o que a BRI tem a oferecer, levando em conta inclusive que outras opções eles teriam. A propósito, os esforços americanos para conter a BRI apenas podem prosperar se forem acompanhados de uma alternativa concreta ao que a China oferece. Em vez de tomar partido na dinâmica conflituosa China-EUA, vários países têm buscado aproveitar essa circunstância em seu favor. A Europa está enfrentando este debate hoje. Amanhã, ele cruza o Atlântico de vez.