Manaus e o Love affair

Clarisse Setyon

Não sou casada, mas já atingi uma idade que me permite discutir romances, casos e love affairs.

Affair é uma palavra bonita, elegante (ainda que o affair não seja algo tão elegante). Não sei por que, mas acho que affair combina com “flertar”, uma palavra um pouco (um pouco ?!) fora de moda.

Affair é profundo, mas costuma ser rápido, não dura muito. Alguns deixam boas lembranças. Outros nem tanto. Alguns as pessoas fazem questão de contar para os amigos. Outros, “nem morta” !

Affairs também podem desenvolver novos sentimentos, emoções.

Não entendo por que um affair, necessariamente, é entendido como traição.

Sou solteira. Tenho um affair com uma pessoa solteira. Isto é traição ? Não …

Mas por que o tema affair aparece em plena Copa do Mundo (da FIFA !!) 2014 ?

É para falar um pouco de Manaus. Ou melhor, da Arena Amazônia, aquela que custou mais de R$ 600 mil e que, à exceção das conexões de celular, foi  avaliada com nota acima de 9 para os critérios de acesso, trabalho de voluntários, limpeza e conforto e segurança. No quesito comida, recebeu nota 8,9.

A FIFA a considerou como a melhor das 12 subsedes da primeira fase da Copa do Mundo (quem diria hein, Jerome Valcke !).

Jogadores, torcedores e equipes técnicas de: Itália, Inglaterra, Estados Unidos, Portugal, Croácia, Camarões, Suiça e Honduras, levam boas recordações para casa.

Um verdadeiro love affair … intenso, emocionante. A cada 4 dias, um encontro fulminante de 90 minutos, cheio de paixão.

Mas e agora ? O “caso” acabou … será que o manauara terá saudades das emoções futebolísticas do mês de junho ? Não restarão sentimentos ruins. Não houve traição neste affair. Afinal, Manaus não é reconhecida pelos seus times de baseball, de hóquei na grama ou de curling. Não há notícias de que a população local tenha deixado de praticar e/ou assistir algum outro esporte, para estar presente nos jogos da Copa.

Agora, a previsão é de que a Arena custe ao governo estadual (leia-se: contribuintes) R$ 500 mil, por mês, para ser administrada.

Antes da Copa, ouviu-se dizer que haveria três empresas internacionais interessadas em gerir a Arena. Até o momento não há novidades em relação ao tema.

Vamos a alguns números: na Série A, a Federação Amazonense de Futebol apresenta 10 clubes. Na série B, minha pesquisa mostra 5 times. São 3 os clubes de Futebol Feminino do Estado.

Manaus, em 2013, contabilizava um pouco menos de 2 milhões de habitantes (município mais populoso da Região Norte).

Em 2013, O Campeonato Amazonense teve média de público inferior a 500 pagantes por jogo. A partida da final, disputada em Manaus, presenciou menos de 3.000 torcedores.

A Arena Amazônia tem capacidade para 42.374 pessoas.

Durante a pesquisa para este texto, descobri que foram construídos mais 2 estádios em Manaus e um campo de treinamento para esta Copa. O novo Estádio da Colina, (para 11.000 pessoas), o Estádio do Coroado (para 5.000 pessoas) e ainda um campo com arquibancadas para 1.300 pessoas, com gramado e drenagem padrão FIFA, para deixar de reserva … (reserva ?!).

O que dizer ?

Que Cuiabá, Natal e Brasília se encontram na mesma situação ?

Que serão elefantes brancos (ou cinzas) em breve (muito breve) ?

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