Macron extingue corpo diplomático às vésperas do segundo turno

Na reta final do segundo turno da eleição francesa, o presidente Emmanuel Macron decidiu extinguir a estrutura da carreira diplomática na França, como parte de uma reforma administrativa. A medida foi criticada por diplomatas e pela maioria da classe política, especialmente por Marine Le Pen, sua adversária no domingo.

Le Pen acusou Macron de usar a reforma administrativa para partidarizar o serviço diplomático francês. “Ele quer trocar servidores imparciais por seus camaradas”, afirmou a candidata de extrema direita. Ela prometeu que, se for eleita, vai restaurar “o estatuto dos diplomatas com base no mérito e no interesse nacional”.

Macron foi criticado também por setores da esquerda. Jean-Luc Mélenchon lamentou a mudança em um corpo diplomático com séculos de experiência. “A França viu sua rede diplomática de vários séculos destruída. A segunda do mundo. Os amigos agora poderão ser nomeados. Enorme tristeza”, disse o ex-candidato de extrema esquerda, que terminou em terceiro lugar.

A socialista Ségolène Royal, ex-candidata presidencial, questionou como uma medida tão importante poderia ter sido aprovada sem um voto no Parlamento e a poucos dias do segundo turno da eleição presidencial. Para se reeleger, Macron precisa dos votos da esquerda.

Mudanças

Com a medida, os cargos no Ministério de Relações Exteriores, a partir de agora, deixam de ser exclusivos dos diplomatas de carreira e poderão ser preenchidos também por pessoas oriundas de outras partes do serviço público e privado. Além disso, esses servidores estarão vinculados a uma autarquia interministerial que centralizará as contratações.

Cerca de 800 funcionários de alto escalão, dos 1.800 do Ministério das Relações Exteriores da França, serão afetados pela medida. A partir de 2023, os diplomatas trabalharão lado a lado com chefes de polícia, inspetores financeiros e outros servidores públicos de alto nível sob a bandeira “corpo administrativo do Estado”. O governo defendeu a reforma, dizendo que deixará o serviço público mais operacional.

A reforma tem como pano de fundo a insatisfação de parte dos franceses com uma casta da elite política e econômica, principalmente no serviço público, evidenciada com a série de protestos dos coletes amarelos, desde 2019.

Um dos alvos da insatisfação é a Escola Nacional de Administração (ENA), criada pelo general Charles de Gaulle, após a 2.ª Guerra, para treinar a elite de servidores franceses – incluindo Macron, que se formou em 2002.

O fim da ENA, que será substituída pelo Instituto Nacional do Serviço Público, foi uma oportunidade para o presidente francês tentar se afastar da imagem de elitista que o persegue.

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