Inteligência artificial num mundo mais incerto

Por Claudio Oliveira 

No dia 31/03, os professores Mariana Malvezzi e Cléber Figueiredo organizaram um painel sobre o Mundo BANI, tema de pesquisa do Núcleo de People Analytics da ESPM. O termo BANI significa Brittle, Anxious, Nonlinear and Incomprehensible. Em português, podemos chamar de FANI: Frágil, Ansioso, Não linear e Incompreensível. Ele foi criado por Jamais Cascio, antropólogo e futurista americano e ganhou impulso após a pandemia de Covid.

Segundo Cascio, o termo BANI é um contraponto ao termo VUCA (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo) que foi usado para explicar os cenários anteriores. O VUCA descreve a natureza dos sistemas globais quando estão funcionando conforme o planejado. O BANI descreve o que acontece quando um mundo VUCA se quebra e os sistemas complexos não coevoluem, reagindo de maneira caótica.

O conceito lança diversas oportunidades de entendimentos para nosso contexto e ainda será objeto de diversas pesquisas, dado que é muito recente. Vou me deter sobre os aspectos da Incompreensão. Como podemos tomar decisões com dados cada vez mais fragmentados e como entender a lógica de um contexto caótico.

Uma possibilidade seria o uso de inteligência artificial para consolidar os dados e procurar enxergar padrões que possibilitem tornar o futuro um pouco mais previsível. Isso tem sido feito há muitos anos, por exemplo, ao descobrir padrões de que uma consumidora está grávida, o supermercado Target oferece uma série de cupons de desconto, pois sabe que nesse momento, os pais estão mudando seus hábitos de consumo e mais suscetíveis a compras por impulso.

Esses gatilhos de consumo detectados por modelos preditivos são utilizados há décadas por indústrias como seguros, bancos e varejo. Esses modelos tiveram um impulso devido a internet e a quantidade de informações sobre o comportamento do consumidor disponíveis nos históricos de navegação, nas postagens em mídias sociais e na geolocalização dos trajetos de quem usa aplicativos de celulares. Empresas como Meta, TikTok e Netflix oferecem conteúdo personalizado baseado em algoritmos que oferecem o conteúdo com maior probabilidade de engajamento baseado no histórico dos usuários.

A questão proposta pelo conceito Bani é se os comportamentos passados continuam explicando o comportamento futuro, pois se o mundo é caótico e se somos convidados a rever nossos paradigmas de tomada de decisão a todo momento, será que esses algoritmos continuam válidos?

Há diferentes visões, Thomas Davenport escreveu um artigo no MIT Review sobre a disrupção nos modelos preditivos após a pandemia de Covid. Segundo ele, os comportamentos de consumo foram tão modificados que não faz sentido utilizar o histórico anterior à Covid, pois ele não representa mais o consumidor. Por exemplo, hoje as pessoas estão trabalhando de forma mais virtual, ficando menos dias no escritório. Em vez de procurar imóveis próximos ao trabalho, procuram residências mais espaçosas para que possam instalar seus home-offices e viver mais confortavelmente. Os endereços passam a ser mais distantes do trabalho, uma vez que não é necessário ir todo dia para o trabalho presencial. Então o hábito antigo de compra de imóvel não tem mais utilidade para prever futuras compras.

Na minha experiência como consultor, verifico que essa resposta depende de cada mercado. Entendo que alguns mercados terão recuperação em V e passarão a ter padrão de consumo próximo ao anterior à pandemia, como o consumo em bares e restaurantes. Outras áreas como varejo foram transformados de forma profunda e os algoritmos praticamente foram zerados com a pandemia, nesses casos, a inteligência artificial continua tendo importância para o entendimento do contexto, mas com precisão bem menor do que antes.

Para saber mais:

https://vocerh.abril.com.br/futurodotrabalho/criador-do-termo-bani-explica-como-sobreviver-na-era-do-caos/

https://mitsloan.mit.edu/ideas-made-to-matter/how-covid-19-disrupting-data-analytics-strategies

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