Liz Truss perde 2º ministro e vê fritura aumentar no Reino Unido

A primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, procurou defender nesta quarta (19) sua posição como líder de um governo à beira do colapso. “Sou uma lutadora, não uma desistente”, afirmou durante sessão no Parlamento em que respondia a perguntas, em especial sobre seu seu plano econômico que foi por água abaixo.

Horas depois, a britânica perdeu mais um importante nome de seu governo. Suella Braverman, que chefiava a pasta do Interior, renunciou sob uma justificativa técnica: disse que violou regras do funcionalismo ao enviar documentos oficiais usando um perfil pessoal de email.

O pano de fundo, porém, é outro —e a carta de Braverman publicada no Twitter aponta nesse sentido. “Me preocupo com a direção deste governo. Não apenas quebramos promessas importantes feitas aos nossos eleitores, mas também tenho sérias preocupações sobre o compromisso deste governo em honrar compromissos”, escreveu.

Braverman se referiu em particular à política migratória do governo. Ela defende que o Reino Unido adote uma posição mais dura contra migrantes. À frente do ministério, chegou a preparar uma proposta de lei que proibiria estrangeiros que cruzam o Canal da Mancha de pedir asilo e disse que era seu “sonho” ver um voo do governo deportando requerentes para Ruanda —possibilidade barrada pela Justiça britânica.

O novo ministro do Interior será Grant Shapps. Ele já esteve à frente do Ministério dos Transportes, foi um dos candidatos à liderança do Partido Conservador —e, por consequência, ao cargo de premiê. Quando a disputa ficou entre Truss e o ex-ministro das Finanças Rishi Sunak, Shapps apoiou Sunak.

Esta é a segunda vez que a primeira-ministra nomeia em seu governo apoiadores de seu adversário. Na semana passada, ela demitiu Kwasi Kwarteng, secretário das Finanças, e empossou Jeremy Hunt.

O cerne das tensões para o governo de Truss está justamente na pauta econômica. Desde sua campanha para liderar os conservadores, ela vinha propondo um corte de impostos. Após o pleito, o mercado reagiu mal ao plano temendo consequências catastróficas da queda da arrecadação fiscal em tempos de alta da inflação puxada pelo aumento nos custos da energia. Na ocasião, o valor da libra e os preços dos títulos do governo despencaram, forçando o Banco da Inglaterra a intervir para proteger fundos de pensão.

“Atuei no interesse nacional para garantir que tenhamos estabilidade econômica”, disse Truss, repetindo o mesmo argumento utilizado dois dias antes, quando em entrevista à BBC ela pediu desculpas pelos erros e comentou as razões de ter revertido sua estratégia em menos de seis semanas de governo.

Ainda nesta terça, a primeira-ministra disse estar comprometida em reajustar as pensões do Estado de acordo com a inflação; dias antes, Hunt havia desconversado quando questionado sobre o assunto.

No país, um mecanismo garante que os valores das aposentadorias sejam corrigidos com base na inflação, no aumento do salário mínimo ou em 2,5% –os reajustes são feitos, geralmente, em abril.

“Fomos claros em nosso manifesto que manteremos esse mecanismo, e estou comprometida com isso, assim como o ministro das Finanças”, disse Truss ao Parlamento. Por outro lado, ela não deu a mesma garantia a outros pagamentos de bem-estar e à ajuda externa.

O fato é que Truss precisa ganhar o apoio dos britânicos: o instituto YouGov divulgou, na terça (18), que oito em cada dez pessoas desaprovam o governo. O índice de 77% é o maior patamar de insatisfação dos últimos 11 anos de monitoramento.

Dos entrevistados, 87% disseram acreditar que Truss está conduzindo mal a economia. Entre os eleitores conservadores, só um a cada cinco tem opinião favorável sobre ela.

Em meio ao cenário devastador, um número preocupa ainda mais a primeira-ministra: o de parlamentares dispostos a destituí-la do cargo. Segundo o YouGov, só dois em cinco (38%) defendem a permanência dela; os que desejam a renúncia chegam a 55% dos entrevistados.

Na prática, a saída dela do cargo está condicionada à apresentação de 54 cartas de correligionários pedindo a votação de uma moção de confiança, o que precisaria do apoio de mais da metade dos conservadores —180 cédulas. Boris Johnson passou pelo processo pouco antes de renunciar e sobreviveu.

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2022/10/sob-questionamentos-truss-diz-que-e-uma-lutadora-e-nao-desistira.shtml

Comentários estão desabilitados para essa publicação