Colocar o consumidor em primeiro lugar, oferecer controle e transparência sobre o uso dos dados são os conselhos do presidente do Google Brasil, Fabio Coelho, às empresas que precisam se adaptar à a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Em Live do Valor de ontem, o executivo disse estar feliz com o tempo de adaptação da lei no 13.709, que entrou em vigor na sexta-feira e aplicará penalidades a partir de agosto de 2021.
“Se fosse criada uma regulamentação muito restrita, de uma hora para outra, você poderia até inibir a inovação”, afirmou Coelho.
O executivo diz que o Google não percebeu grandes mudanças com a entrada da lei em vigor porque já houve uma adaptação para entrar em conformidade com a LGPD. “Para o Google, a LGPD é parte de uma evolução constante e não uma ruptura”, disse Coelho.
O aprendizado, segundo ele, veio da experiência prévia da empresa com “uma legislação complicada” na Europa e com a lei de privacidade na Califórnia.
Além da atualização de políticas de privacidade e páginas de ajuda, o executivo ressalta que a empresa criou formulários para que os usuários solicitem informações sobre seus dados, bem como a retificação ou a portabilidade dos mesmos.
O conselho do executivo para as empresas que precisam se adaptar à lei é “oferecer o máximo de controle ao cliente, transparência, para que ele entenda tudo o que está acontecendo, e segurança, garantindo que seus dados não serão vendidos, que não tem vazamento de informações e que os dados serão sempre usados de maneira anônima”.
Na visão do executivo, o controle dos dados pelo consumidor é um processo em desenvolvimento, que requer ajustes constantes, inclusive em relação à publicidade digital.
Coelho argumentou que, no caso da publicidade digital, a segmentação torna a comunicação mais efetiva, mas diz que o usuário tem o poder de decidir quais dados quer compartilhar. “Na prática, a publicidade vai continuar sendo exibida, mas sem a opção da segmentação”, notou.
Segundo ele, o usuário também pode decidir que seus dados sejam excluídos automaticamente a cada seis ou 12 meses, se preferir.
O executivo também comentou sobre a importância da tecnologia para sustentar a continuidade de negócios durante a pandemia. “Acho que já podemos dizer que a tecnologia vai acelerar a recuperação econômica. Algo fundamental que vimos no Brasil é que os empresários e empresárias são heróis. Empresas que não tinham estratégias digitais fizeram, de uma hora para outra, uma transformação como elas podiam fazer”, afirma.
A chegada de novos consumidores on-line por conta do isolamento social pode ser um bom caminho para o avanço da economia digital no Brasil. “Essas pessoas que tiveram essa ‘primeira vez’ no ambiente digital agora olham e falam: ‘bom, perdi o medo, agora eu sei fazer’. Passa a ser opcional [consumir on-line]”, observou Coelho.
O executivo ressaltou que o sistema Android foi fundamental para democratizar o acesso dos brasileiros à internet. Em 2019, o sistema ajudou a movimentar R$ 136 bilhões em software, hardware e serviços, gerando 600 mil empregos no país, segundo a empresa.
O presidente do Google disse ainda que o mercado digital para a terceira idade é outra grande oportunidade. “Nos próximos cinco a dez anos vamos ver um movimento enorme em que as pessoas vão necessitar da tecnologia não só no celular, mas no apoio, como um pequeno robozinho que vai ser um companheiro para uma pessoa idosa sozinha”, prevê.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/09/22/lgpd-e-evolucao-nao-ruptura-diz-google.ghtml