A China Evergrande Group foi declarada oficialmente inadimplente pela primeira vez. Este marco no drama financeiro que já dura meses abre caminho para uma enorme reestruturação da incorporadora imobiliária mais endividada do mundo.
A Fitch Ratings rebaixou a classificação de risco da empresa para “default restrito” por não honrar dois pagamentos de cupom após um período de carência que terminou na segunda-feira, de acordo com um comunicado. A agência afirma que a incorporadora não respondeu ao pedido de confirmação dos pagamentos e presumiu que não foram efetuados. O downgrade pode desencadear outros calotes na dívida da Evergrande de US$ 19,2 bilhões.
O anúncio representa o começo do fim do vasto império imobiliário iniciado há 25 anos pelo fundador Hui Ka Yan e deflagra a disputa dos credores pelas sobras. Também representa um desafio aos esforços do governo chinês para evitar que a crise de dívida no setor imobiliário se espalhe. As autoridades tiveram algumas vitórias. Os mercados reagiram calmamente aos últimos tombos do setor imobiliário após o banco central anunciar um corte no depósito compulsório na segunda-feira.
A Evergrande informou que seu passivo total superava US$ 300 bilhões em junho. Em documentação submetida em 3 de dezembro, a companhia afirmou que pretende “se engajar ativamente” com credores offshore em um plano de reestruturação. Essa reestruturação deve incluir os títulos offshore e as obrigações de dívida privada, segundo relato separado de pessoas a par do assunto.
A Fitch também rebaixou a Kaisa Group Holdings para “default restrito” por não honrar o pagamento de US$ 400 milhões em títulos em dólar vencidos na terça-feira. A piora da classificação de risco também pode desencadear novos calotes na dívida de US$ 11,2 bilhões dessa outra incorporadora.
A falta de disposição de resgatar a Evergrande demonstrada por Pequim transmite claramente que o Partido Comunista não vai tolerar o acúmulo de dívidas gigantescas que ameaçam a estabilidade financeira. O banco central reiterou na sexta-feira que os riscos à economia devido à crise da dívida da Evergrande podem ser contidos, acrescentando que a companhia enfrenta problemas por “má gestão” e “expansão imprudente”. O comandante da autoridade monetária, Yi Gang, afirmou que será usada uma abordagem de mercado para lidar com a Evergrande.
No entanto, o governo agora está profundamente envolvido na gestão da empresa, enviando uma equipe para garantir operações “normais”.