Hungria impede sanções da Europa ao petróleo russo

A União Europeia mais uma vez não conseguiu chegar a um acordo para eliminar gradualmente as importações de petróleo da Rússia, como é planejado desde o início deste mês. Os embaixadores se reuniram na manhã desta segunda-feira, 30, para negociar, mas a oposição da Hungria à medida mantém o acordo em suspenso. Enquanto isso, os países europeus continuam comprando o combustível.

Agora, a questão sobre o petróleo ameaça ofuscar uma cúpula de dois dias do Conselho Europeu sobre a guerra na Ucrânia, que começou na tarde desta segunda-feira em Bruxelas. Líderes da UE discutirão um plano de sanções diluído – que proibiria entregas marítimas do combustível, mas isentaria os oleodutos.

Sob anonimato, um alto funcionário da UE disse ao The Washington Post que o Conselho Europeu espera chegar a um acordo político sobre a proposta ainda nesta segunda. Ainda não está claro se todos os 27 líderes irão assinar.

O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, afirmou na chegada à cúpula que viu a proposta e que não há acordo fechado sobre ela. Ele saudou a decisão de deixar o petróleo do oleoduto isento das sanções – uma ideia que partiu dos próprios húngaros -, mas disse que também precisa de garantias de que o fornecimento ao seu país estará protegido se algo acontecer ao oleoduto, que atravessa a Ucrânia para chegar à Hungria.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse nesta segunda-feira que eventualmente haveria um acordo. “Minhas expectativas de que isso será resolvido nas próximas 48 horas são baixas”, disse a repórteres em Bruxelas.

No início da cúpula, os líderes da UE ouviram um discurso virtual a portas fechadas do presidente ucraniano Volodmir Zelenski. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, agradeceu a Zelenski pelos comentários “sinceros”. “Vamos aumentar sua liquidez [financeira] e ajudá-lo a reconstruir a Ucrânia”, ele twittou. “Continuaremos a reforçar sua capacidade de defender seu povo e seu país.”

Embora as autoridades e líderes da UE queiram manter o foco da cúpula no apoio à Ucrânia, o fato dos países europeus continuarem comprando grandes quantidades de petróleo russo, financiando o Kremlin, é inescapável das discussões.

Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, os estados-membros da UE procuram maneiras de eliminar os combustíveis fósseis russos sem comprometer a energia em toda a Europa. Eles concordaram em eliminar gradualmente o carvão, mas as negociações sobre o petróleo têm sido mais difíceis e um acordo permanece suspenso há semanas em função da oposição de Viktor Orbán.

Orbán comparou a proibição do petróleo russo ao lançamento de uma “bomba nuclear” na economia do país e pediu insistentemente mais tempo e dinheiro para atualizar a infraestrutura petrolífera do país – que, por não ter litoral, depende do oleoduto russo para receber o combustível. O líder húngaro garantiu concessões e a Europa tem demonstrado disposição para concedê-las a Hungria e a outros países que possuem dependência dos oleodutos, mas autoridades e diplomatas afirmam que Viktor Orbán pressiona por mais.

Alguns afirmam que Orbán, um dos aliados mais próximos do presidente Vladimir Putin na Europa, parece usar a situação para revidar a posição da União Europeia de bloquear dinheiro do país por conta dos retrocessos democráticos.

A última proposta na mesa das autoridades europeias pede a proibição de entregas marítimas de petróleo russo, mas isenta as entregas por oleodutos neste primeiro momento. Isso mantém o fluxo de petróleo da Rússia para vários países do bloco, incluindo a Hungria. O projeto não estabelece um cronograma para a duração da isenção.

A manutenção do escoamento de petróleo através dos oleodutos suavizaria o impacto das sanções contra o combustível. Um funcionário da UE afirmou sob anonimato para o The Washington Post que a eliminação gradual de todas as entregas marítimas atingiria cerca de dois terços das importações.

Com essa proposta, o abastecimento via oleodutos continuaria contínuo através da rede Druzhba, que, de um lado, atravessa Belarus em direção à Polônia e Alemanha e, do outro, atravessa a Ucrânia para ir à Eslováquia, República Checa e Hungria. Como a Polônia e a Alemanha se comprometeram em eliminar as compras de petróleo russo este ano, teoricamente a Europa conseguiria reduzir as importações ainda mais.

https://www.estadao.com.br/internacional/hungria-segura-pressao-da-uniao-europeia-para-sancionar-petroleo-russo/

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