O primeiro-ministro da China, Li Keqiang, emitiu na quarta-feira um alerta sombrio sobre a situação perigosa da economia da China, dizendo a mais de 100 mil autoridades em uma videoconferência nacional que elas precisam estimular urgentemente o crescimento, reduzir o desemprego e garantir a safra de grãos do verão (terceiro trimestre no Hemisfério Norte)
Mas a falta de novas iniciativas concretas do governo central e a cobertura silenciosa que a imprensa estatal fez do evento sugerem que ainda não há uma saída fácil para a crise econômica desencadeada pela controvertida política de “covid zero” do presidente Xi Jinping. A estratégia paralisou parcial ou completamente a atividade econômica em dezena
Poucas horas após o discurso de Li, o principal noticiário noturno da TV estatal chinesa transmitiu sem destaque uma versão breve e muito mais branda de suas declarações. E exibiu uma longa reportagem sobre os policiais chineses, que se orgulham de ser “o cabo da faca do Partido Comunista Chinês”, elogiando Xi..
As imagens mostraram mais de 1.400 policiais uniformizados aplaudindo Xi e transmitiu uma mensagem clara de que as crescentes preocupações com a segunda maior economia do mundo não suplantam o controle da pandemia como prioridade do Partido.
“Após assistir o noticiário, a coisa ficou parecendo muito desanimadora”, disse uma autoridade do governo na província de Jiangsu, no leste da China, que está tentando reanimar a economia local. “Houve uma cobertura muito maior das pessoas aplaudindo Xi.”
Li Keqiang e Yi Gang, o presidente do banco central chinês, aumentaram o mal-estar das autoridades locais quando insinuaram que há relativamente poucas coisas que o governo possa (ou esteja disposto a fazer) para ajudá-los, muito embora os desafios econômicos, segundo o premiê, sejam “até certo ponto, maiores que os vividos em 2020”, quando a pandemia da covid-19 teve início na província de Hubei, no centro da China.
No primeiro trimestre de 2020 a economia da China encolheu 6,9% ante o mesmo período de 2021, na primeira queda oficialmente reconhecida em mais de 40 anos.
Li chegou até a levantar o espectro de uma possível escassez de alimentos. Embora a maior parte das atenções internacionais tenham se concentrado nas medidas duras de Xangai, que começaram no fim de março e começaram a ser gradualmente afrouxadas apenas na semana passada, os “lockdowns” e as restrições ao transporte regional também afetaram grandes regiões agrícolas como a província de Jilin. “A colheita não pode parar de jeito nenhum”, disse ele às autoridades, segundo uma transcrição em “off” da reunião emergencial de quarta-feira que foi confirmada por três fontes. “A segurança alimentar é uma responsabilidade fundamental do quadros locais do Partido e governos. Se você não conseguir estabilizar a produção agrícola, será responsabilizado.”
No entanto, Li e Yi ofereceram apenas uma modesta ampliação de uma iniciativa de redução de impostos corporativos e novos empréstimos de 800 bilhões de yuans (US$ 118,7 bilhões), um montante equivalente a apenas 0,7% do PIB.
Durante a pior fase da crise financeira global em 2008 e 2009, Pequim liberou um pacote de estímulo equivalente a 13% do PIB chinês. “Recentemente, umas poucas províncias enviaram relatórios do Conselho de Estado [o gabinete da China] pedindo para contrair empréstimos”, disse Li. “Mas os pagamentos de transferências atuais para os governos locais são os maiores da história… Portanto, deixem-me passar a vocês o ponto principal, o resto depende de vocês, governos locais.”
Analistas afirmam que em áreas onde os lockdowns rígidos minaram a demanda de empresas e consumidores, mais crédito bancário é algo tão eficaz quando “puxar com um barbante” – segundo analogia atribuída a John Maynard Keynes.
“Sem o governo central intensificando sua presença, a vantagem do apoio fiscal é limitada”, diz Trey McArver da consultoria Trivium, de Pequim. “Um recuperação em forma de ‘V’ é extremamente improvável.”
David Zhang, dono de uma pequena firma de pesquisas de mercado de Pequim, diz que “empréstimos baratos para as pequenas e médias empresas não ajudarão – meu problema é a falta de negócios e o aumento dos custos operacionais”. Zhang, cujas receitas caíram mais de 50% nos últimos meses, acrescenta que “a situação está pior do que em 2020”.
Muitos donos de pequenas empresas também reclamam que isenções fiscais de Li geralmente vêm com condições que as tornam impossíveis de reivindicar para pequenas e médias empresas em dificuldades.
Em algumas regiões, as agências fiscais locais, que estão com problemas de caixa, só concederão parte de qualquer benefício fiscal, que geralmente é a das grandes empresas estatais e investidores estrangeiros, à custa dos fornecedores de pequenas e médias empresas, que são menores e predominantemente do setor privado.
“A maioria de nossos clientes é maior do que nós e não há como eles abrirem mão dos benefícios fiscais para nos ajudar”, diz Li Bin, que preside uma pequena agência de propaganda em Najing, perto de Xangai. “Somos pequenos demais para fazer nossos clientes se sacrificarem por nós. A situação está muito ruim.”