Governo da Itália eleva meta de déficit e desafia UE

O novo governo da Itália propôs um orçamento para 2019 com um déficit três vezes maior do que sua meta anterior, estabelecendo um conflito com as regras da União Europeia e provocando a venda de títulos públicos.
A Itália tem a maior dívida entre as grandes economias da União Europeia, a 130% do Produto Interno Bruto. O país está sob pressão da UE para conter seus gastos, em meio a temores de que a situação possa plantar as sementes de uma crise de dívida no coração da zona do euro.
Com quatro meses de atraso, o governo divulgou na quinta-feira um orçamento com déficit de 2,4% do PIB para os próximos três anos, para financiar uma grande expansão dos gastos sociais, redução de impostos e um aumento no investimento em infraestrutura pública.
Isso representou uma vitória para os chefes do partido governista sobre o ministro da Economia, Giovanni Tria, um tecnocrata não-afiliado.
Inicialmente, Tria pretendia estabelecer um déficit de 1,6% no próximo ano, na esperança de respeitar as exigências da União Europeia de que a Itália corte progressivamente o déficit fiscal para conter sua dívida.
O euro caiu com as notícias antes de ter uma leve recuperação. Os títulos italianos estavam a caminho de seu pior dia em três meses, enquanto as ações bancárias também recuavam, embora os temores de vendas generalizadas tenham sido evitados.
“Eles parecem estar em rota de colisão com Bruxelas”, disse o estrategista de juros do ING, Martin van Vlie.
O comissário europeu de Economia, Pierre Moscovici, disse que nada seria obtido em um confronto com a Itália, mas acrescentou: “Nós também não temos interesse em que a Itália não respeite as regras e não reduza sua dívida, que permanece explosiva”.

Reação dos mercados
Os índices acionários europeus recuavam nesta sexta-feira, depois que o governo italiano estabeleceu uma meta de déficit orçamentário maior do que o esperado.
Por volta das 8h22 (horário de Brasília), o índice FTSEEurofirst 300 caía 0,7%, a 1.506 pontos, enquanto o índice pan-europeu STOXX 600 perdia 0,69%, a 384 pontos, mas ainda caminha para um pequeno ganho semanal, o terceiro consecutivo.
As ações dos bancos italianos, cujas grandes carteiras de títulos soberanos os tornam sensíveis ao risco político, cediam à pressão de venda e recuavam 7%, enquanto os títulos do governo eram vendidos e o foco se voltava para as agências de classificação de risco.
“O número do déficit está acima do esperado e isso claramente não é um bom sinal. Toda a atenção agora será direcionada para as agências de classificação de risco, que esperavam o orçamento para reconsiderar sua classificação”, disse Gilles Guibout, gerente de portfólio da AXA IM. “Entretanto, é difícil imaginar que as ações italianas tenham um bom desempenho”, acrescentou.

https://g1.globo.com/economia/noticia/2018/09/28/governo-da-italia-eleva-meta-de-deficit-e-desafia-ue.ghtml

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