Fraqueza do setor industrial empurra Alemanha para recessão

Uma grande queda na produção de automóveis levou à uma contração da indústria alemã, com a produção caindo pelo terceiro mês seguido em julho, intensificando as pressões para Berlim tirar a economia da crise. 

A Alemanha parece destinada a uma nova contração, com suas fábricas enfrentando custos de energia mais elevados, um mercado global menos acolhedor e uma intensa concorrência da China em setores-chave. Nesta semana o Instituto Kiel para a Economia Mundial cortou sua previsão para a economia alemã para uma contração de 0,3% no trimestre atual e de 0,5% em 2023 como um todo.

A produção industrial caiu 0,8% no mês, segundo a agência de estatísticas alemã. Essa queda teria sido ainda maior sem uma recuperação na produção de energia e da construção em julho. A produção do setor automotivo caiu 9%. 

“A produção industrial da Alemanha continua despencando e até mesmo os mais pessimistas estão ficando assustados”, diz Carsten Brzeski, economista do banco holandês ING, que calcula que a produção industrial ainda está 7% abaixo dos níveis pré-pandemia. 

A maior economia da Europa encolheu ou estagnou nos últimos três trimestres e sua recuperação da pandemia de covid-19 tem sido mais lenta que a dos EUA e da zona do euro como um todo. O coração industrial do país foi particularmente atingido pelos preços mais altos da energia, elevação das taxas de juros e desaceleração do comércio com a China – seu segundo maior mercado exportador. 

Ralph Solveen, economista do banco alemão Commerzbank, diz que a contínua queda da produção afetou “todos os grupos manufatureiros”, indicando que isso provavelmente vai “contribuir para uma contração da economia alemã no segundo semestre do ano”. 

Para piorar, a agência de estatísticas da União Europeia cortou sua estimativa de expansão da zona do euro no segundo trimestre de 0,3% para 0,1%. A revisão segue-se aos cortes nas previsões de crescimento da Itália, Irlanda e Áustria e significa que a região está ficando mais atrás dos EUA, cujo PIB cresceu 0,6% no trimestre. Ontem, o euro caiu 0,3%, para US$ 1,0688, seu menor nível em três meses. 

Há temores crescentes de que grupos industriais alemães venham a transferir a produção para fora do país. A Basf, principal companhia de produtos químicos da Alemanha, vai construir uma nova unidade petroquímica de 10 bilhões na China e está reduzindo o tamanho de sua sede nas margens do Reno, em Ludwigshafen. 

Uma pesquisa recente da Câmara do Comércio e Indústria da Alemanha constatou que 32% das empresas consultadas preferem investir fora do país a ampliar seus negócios no mercado interno. 

O governo vem sendo pressionado a resolver os problemas econômicos do país. Esta semana, o primeiro-ministro Olaf Scholz prometeu aumentar o crescimento e eliminar o “mofo da burocracia”, acelerando a digitalização dos serviços online do governo e as faturas eletrônicas — áreas em que a Alemanha está atrasada —, além de facilitar a criação e estimular o crescimento das startups. 

Os 16 Estados da Alemanha adotaram uma rara posição unificada ontem em favor de um preço subsidiado de eletricidade para setores de uso intensivo de energia — uma ideia apoiada pelo ministro da Economia Robert Habeck, do Partido Verde, e por grandes grupos empresariais, mas contestada pelo social-democrata Scholz e seu ministro das Finanças liberal. 

Os líderes regionais apelaram para que os países da União Europeia possam oferecer um subsídio à eletricidade que atue como uma “ponte” enquanto energias renováveis acessíveis não estiverem prontamente disponíveis. 

Habeck reconheceu ontem que o país está sofrendo com muitos problemas que incluem os preços altos da energia. Mas alertou contra “falar mal” da maior economia da Europa, insistindo ser errado afirmar que “tudo está indo mal”. 

“A notícia positiva é que o senso de urgência finalmente aumentou”, disse Brzeski. “Vamos esperar agora por uma ação política mais concreta. Até lá, a estagnação na indústria e na economia com um todo parece ser o novo normal.” 

A Destatis, agência federal de estatísticas alemã, disse que a queda da produção industrial em julho, sobre igual período do ano passado, foi de 2,1%. Os setores de uso mais intensivo de energia, como os de produtos químicos, metalurgia e vidro, sofreram uma queda anual maior de 11,4%. 

As fábricas alemãs ainda estão trabalhando para atender os pedidos em atraso, mas estes estão diminuindo. Os novos pedidos para a indústria alemã caíram 10,7% no mês em julho. Foi a maior queda desde que o primeiro “lockdown” da pandemia fechou muitos fábricas em abril de 2020. 

“Embora os volumes de pedidos não atendidos ainda sejam altos, eles vêm caindo paulatinamente e por isso é improvável que sustentem a produção nas fábricas por muito mais tempo”, diz Franziska Palmas, economista da consultoria Capital Economics. “Acreditamos que a produção cairá mais no restante do ano, contribuindo para a Alemanha mergulhar em uma recessão.” 

Outro fator que está pesando sobre muitas empresas alemãs é a escassez de mão de obra. Uma pesquisa de agosto do Instituto Ifo com 9 mil empresas do país, constatou que 43,1% sofrem com a falta de mão de obra qualificada, um aumento em relação ao mês anterior, mas um pouco abaixo do recordo de quase metade de todas as empresas no ano passado. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2023/09/07/producao-industrial-na-alemanha-em-julho-registra-queda-pelo-3o-mes-consecutivo.ghtml

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