FMI monitora preços globais, mas não vê risco de estagflação

O Fundo Monetário Internacional (FMI) está atento aos sinais da inflação global, mas não vê, no cenário-base, riscos de estagflação (índices de preços subindo sem crescimento econômico), afirmou Gita Gopinath, economista-chefe da instituição, em coletiva de imprensa ontem para comentar o último “Panorama Econômico Mundial” (WEO, na sigla em inglês). 

“A inflação é um dos riscos que destacamos no relatório. Vimos acelerar em muitos países, mas eu quero frisar que não é um fenômeno mundial uniforme”, disse ela. 

O FMI atribui a pressão de preços, em geral, a rupturas nas cadeias e alta das commodities. A expectativa é que a inflação retorne a níveis mais “normais” (pré- covid) em meados de 2022. Gopinath destacou, porém, que o grau de incerteza é “tremendo” e há heterogeneidade grande entre países, com riscos de alta, por exemplo, para Estados Unidos e Reino Unido. “Para os EUA, pode demorar um pouco mais, talvez até o fim do ano [que vem]”, indicou. 

Já em alguns países emergentes e em desenvolvimento, a pressão poderá persistir por causa dos preços de alimentos e combustíveis e pelo efeito da desvalorização cambial sobre bens importados, aponta o relatório. 

Diante do cenário “muito único” gerado pela pandemia, Gopinath afirmou que é preciso “estar particularmente vigilante” para que choques de oferta não acabem desancorando expectativas de inflação, o que pode afetar núcleos (medidas que tentam suavizar o efeito de itens mais voláteis) e exigir respostas de política monetária mais fortes. Como “sinais para prestar atenção”, ela mencionou, além das expectativas, a inflação da moradia e também de salários. 

Com a percepção de que a recuperação mundial continua, mas perdeu ímpeto, prejudicada por surtos de covid-19, o que intensifica rupturas em cadeias de fornecimento, o FMI reduziu sua previsão de crescimento da economia global para 5,9%, ante 6% estimados em julho. Para 2022, a expectativa foi mantida em 4,9%. 

Entre as principais economias, houve revisão baixista neste ano para EUA (7% para 6%) e Alemanha (3,6% para 3,1%). Em relação à China, o FMI reduziu a estimativa em apenas 0,1 ponto percentual, para 8%. Gopinath disse que “o rebaixamento muito pequeno” reflete aperto fiscal maior do que o antecipado. “Há outros desafios, claro, que a China enfrenta, em termos do setor imobiliário, de disrupções na cadeia de produção”, afirmou. 

Questionada se a estagflação era uma preocupação, principalmente nos EUA e em partes da Europa, Gopinath lembrou que as projeções do FMI para a economia global e a zona do euro são de crescimento neste ano e no seguinte. “Isso não é nada perto de estagnação.” Há riscos, segundo ela, porque o que se vê são mais choques de oferta, o que leva muitas economias a produzir menos, enquanto os preços sobem. “Mas, de novo, para o cenário-base geral, isso [estagflação] não é algo que está remotamente perto”, ressaltou. 

Para ela, a política monetária precisará caminhar sobre a “linha tênue” entre combater a inflação e riscos financeiros e apoiar a recuperação econômica. “Os bancos centrais devem estar preparados para agir rapidamente se os riscos de aumento das expectativas de inflação se tornarem mais relevantes”, disse, acrescentando que eles devem mapear ações contingentes, anunciar gatilhos claros e agir em linha com a comunicação. 

Gopinath destacou que recentes acontecimentos deixam claro que não é possível acabar com a pandemia em um país ou região sem ela ter sido superada no mundo todo. “A principal prioridade política é vacinar pelo menos 40% da população mundial até o fim do ano e de 70% até metade de 2022.” 

Questionada sobre a situação da África, a economista comentou que o continente deve ser a região onde o acesso a vacinas é mais limitado. “Essa é uma das grandes preocupações que temos e é por isso que estamos pressionando forte para chegar à meta de 40%”, disse. 

Outra prioridade, segundo ela, é desacelerar a alta das temperaturas globais e conter os efeitos das mudanças climáticas. “Isso exigirá compromissos mais ambiciosos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa na Conferência Climática das Nações Unidas”, disse. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/10/13/fmi-monitora-precos-globais-mas-diz-nao-ver-risco-de-estagflacao.ghtml

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