“FAMILIAS VAPORIZADAS*, O MALTRATO AOS ANIMAIS E O CANTO DO SABIÁ ”

Por Mario Rene

Vaporizado*: termo que fazia parte da Novilíngua, criado pelo escritor inglês George Orwell (1903 – 1950) no romance distópico 1984, para se referir aos habitantes da Eurásia assassinados pelo Partido do Grande Irmão. Sumido. Desaparecido. Vaporizado.

Após dois meses de ausência deste Blog (não que alguém tenha notado), volto às teclas.

Simplesmente porque tenciono comentar três notícias que muito chamaram minha combalida atenção, separadas por não mais de dez dias.

Principio pela primeira.

“O Estado de S. Paulo”, de 18 de Setembro, pag.A16:

“Mãe e 4 filhos são encontrados mortos na Grande São Paulo”.

“Após matar filhas, mulher saiu para passear com cão”.

E duas semanas atrás, o caso do menino Marcelo, que do alto de seus 13 anos parece haver assassinado sua família, antes de cometer suicídio.

Será que ingressamos irreversivelmente na era de uma sociedade insana?

Já o maltrato aos animais não é de hoje.

René Descartes acreditava que os animais – para ele, “seres inferiores”, porque não possuem alma nem pensam – não sentem dor.

Eu disse René Descartes mesmo…

… não Torquemada.

Como ele os comparava a máquinas, os uivos de cães, por exemplo, seriam, por analogia, como o ranger de engrenagens emperradas. Nada que merecesse compaixão.

Então ele, um dos maiores filósofos de todos os tempos, não se abalaria com a matéria da Vejinha de 11/9:

Um cão (representando outros tantos…) acorrentado por meses, passando frio, com um mínimo de alimento;

Um gato (representando outros tantos…) que levou uma paulada à toa, ficando cego de um olho;

Uma égua que depois de prestar serviços infindáveis a seu dono simplesmente foi descartada e abandonada à sua própria sorte, não sem antes ter sido estuprada por um grupo de rapazes(!!!…!!!) e noutra ocasião atropelada por uma moto.

Agora, a terceira e última: a do canto do sabiá.

Notícia veiculada em página inteira pelo Jornal Folha de S. Paulo, agora a 16 de Setembro (“Durma com um barulho desses” – às vésperas da primavera, cantoria promovida pelo sabiá-laranjeira na madrugada divide os ouvidos paulistanos (O grifo é meu). “Por causa do insistente gorjeio, “posts” vêm pipocando nas redes sociais, reivindicando o silêncio dos passarinhos em prol do sono”, é um dos trechos da reportagem.

Se chegamos a um ponto no qual o canto de um pássaro causa irritação e provoca manifestações de desagrado nas redes sociais, talvez seja porque os derradeiros resquícios de sensibilidade e ternura tenham se evadido.

Vaporizados.

Estou aguardando ansiosamente pelo próximo movimento nas redes sociais a favor da poda de todos os ipês floridos de São Paulo…

… por sujarem tanto as calçadas.

Quem vai aderir?

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