Exportações da China não atingem meta e acendem alerta para Pequim

O crescimento das exportações da China não atingiu as expectativas no mês passado em termos de dólares, no que analistas disseram ser um sinal para as autoridades de que sua grande dependência do comércio para superar uma economia interna fraca pode estar enfrentando riscos crescentes.

Ao contrário das exportações, as importações cresceram acentuadamente, revertendo quedas anteriores, depois que o setor industrial adquiriu máquinas e bens de capital para sustentar o aumento dos investimentos.

As exportações tiveram um crescimento anual de 7% em julho (em dólares), segundo dados oficiais divulgados nesta quarta-feira pela Administração Geral de Alfândegas da China. O número foi menor que o crescimento registrado em junho, de 8,6%. Um grupo de analistas consultados pela Reuters havia previsto um crescimento de 9,7%.

As importações cresceram 7,2%, superando em muito o crescimento de 3,5% previsto por esses mesmos analistas e acima da queda anual de 2,3% registrada em junho. 

“As autoridades chinesas provavelmente olharão para isso e pensarão que o motor das exportações vai desacelerar antes do que eles pensavam”, disse Louise Loo, economista-chefe da Oxford Economics. 

A economia da China vem dependendo do comércio e da produção industrial para compensar uma crise prolongada no setor imobiliário e a deterioração das finanças dos governos locais, que derrubaram a confiança do consumidor e os gastos das famílias.

A confiança dos investidores também foi afetada pelas repressões do governo e a insistência de Pequim em fornecer apenas um estímulo gradual, em vez de um grande empurrão, para atingir sua meta oficial de crescimento econômico de 5%. 

O presidente Xi Jinping estabeleceu uma visão de aumento da produtividade por meio de investimentos em tecnologia avançada, manufatura e inovação, com os bancos estatais injetando empréstimos na indústria, em vez de estimular a demanda interna. 

Isso levou a pressões desinflacionárias na economia, com preços mais baixos sobrecarregando a competitividade das exportações da China num momento em que os mercados desenvolvidos lutam com a inflação mais alta. 

Loo disse que a indústria chinesa provavelmente antecipou exportações na primeira parte do ano, adiantando-se às possíveis tarifas e incertezas com as eleições presidenciais nos Estados Unidos, bem como a uma demanda externa mais fraca à medida que a economia americana enfraquece. 

“O problema é que a história da demanda externa nunca foi, em nossa visão, um impulsionador permanente; ela sempre vai cair”, disse ela. “É só uma questão de tempo para o fim desse boom.” 

Heron Lim, economista da Moody’s Analytics, diz que o número de exportações mais fraco que o esperado em julho pode ser devido, em parte, ao crescente protecionismo comercial que atinge os produtos chineses, inclusive os automóveis. 

Isso estava acontecendo não só em mercados desenvolvidos como os EUA e a União Europeia (UE), que aumentaram as tarifas sobres os veículos elétricos, mas também em diferentes produtos e países em desenvolvimento. 

“Definitivamente, estamos esperando mais em termos de estímulo”, disse ele, apontando para as expectativas de uma flexibilização monetária e outras medidas no segundo semestre do ano. 

No entanto, Lynn Song, economista-chefe do ING para a Grande China, observa que as exportações cresceram em termos de volume, especialmente em áreas como a automobilística, enquanto os preços estavam mais baixos. 

“Acho que os dados de exportações desapontadores estão, na verdade, mais ligados à competição dos preços”, diz ele, acrescentando que algumas áreas mostraram uma atividade mais vigorosa, como as de eletrônicos domésticos e exportações de semicondutores. 

“Não é uma desaceleração grande e ampla da demanda externa. O valor das exportações caiu e isso provavelmente está derrubando um pouco os números”, afirma ele. 

Song também observa que as importações estavam sendo conduzidas pela demanda por autopeças pelas fabricantes de veículos elétricos, bem como pelos esforços da China de fazer o setor avançar e obter a autossuficiência tecnológica. 

“Há muita demanda por importações de alta tecnologia, semicondutores e equipamentos de processamento automático de dados”, diz ele. “Acho que um erro seria atribuir a recuperação das importações a uma recuperação realmente forte da demanda interna, porque você pode ver que, no geral, as importações ainda estão bem fracas.” 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2024/08/07/exportacoes-na-china-crescem-70percent-em-julho-em-base-anual-mercado-esperava-94percent.ghtml

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