Europa terá plano de investimento externo para competir com programa chinês

A União Europeia (UE) planeja intensificar o enfrentamento com a China por meio de investimentos internacionais em infraestrutura e outros projetos, uma vez que busca rivalizar com a influência política e econômica conquistada por Pequim por meio de sua Iniciativa do Cinturão e da Rota (BRI, na sigla em inglês), também conhecida como Nova Rota da Seda. 

A presidente da Comissão Europeia (CE), Ursula von der Leyen, apresentou ontem o programa, apelidado de “Global Gateway” (algo como “portal global”, em inglês), em seu discurso anual sobre o Estado da União. Numa era de “hipercompetitividade” global, a UE precisa tornar-se um “participante global mais ativo”, disse. 

Isso requer criar vínculos em todo o mundo, e não relações de “dependências”, disse ela – uma referência às preocupações nas capitais dos países do G-7 com a influência que a China tem conquistado graças ao programa BRI nos países em desenvolvimento. 

Von der Leyen também propôs um veto a produtos feitos com trabalho forçado, diante das preocupações com abusos trabalhistas na região chinesa de Xinjiang. Ela também prometeu melhorar a coordenação da UE em questões de segurança. 

O discurso da presidente da CE se soma aos esforços para incrementar a capacidade da UE de fazer valer seu peso no cenário mundial – o que se apelidou de “autonomia estratégica” – inclusive nas relações com a China. O programa “Global Gateway” segue-se à decisão tomada no encontro de cúpula do G-7 no Reino Unido, em junho, de embarcar numa iniciativa de infraestrutura mundial, descrita pelo governo Biden como “transparente, de alto padrão e orientada por valores”. 

O anúncio da UE chega na esteira de uma reação contrária aos projetos chineses, depois de alguns países receptores terem reclamado que os termos das dívidas da BRI são onerosos e que os padrões de construção e ambientais, deficientes. Michael Clauss, embaixador da Alemanha na UE, elogiou a iniciativa, dizendo que era “importante moldar a globalização do jeito europeu”. 

Von der Leyen não procurou disfarçar que o foco do projeto era a China. “Somos bons no financiamento de estradas. Mas não faz sentido para a Europa construir uma estrada perfeita entre uma mina de cobre de propriedade chinesa e um porto de propriedade chinesa”, afirmou ela em Estrasburgo. “Vamos trabalhar juntos para aprofundar os laços comerciais, fortalecer as cadeias de abastecimento globais e desenvolver novos projetos de investimento em tecnologias verdes e digitais.” 

A CE também proporá a proibição da venda de produtos feitos com trabalho forçado no mercado único da UE, acrescentou Von der Leyen. “Há 25 milhões de pessoas que estão sob ameaça de ou são coagidas ao trabalho forçado.” 

A proposta chega depois das diversas reclamações de que a China está forçando milhares de uigures e membros de outros grupos minoritários a trabalhar em Xinjiang e em outros lugares. Neste ano, os EUA trabalharam ao lado da UE, do Canadá e do Reino Unido para impor aos chineses sanções relacionadas a Xinjiang. Em 2020, a UE assinou com Pequim um Acordo Abrangente de Investimentos UE- China, exigindo que a China fornecesse um “guia” sobre a implementação de convenções internacionais contra trabalho forçado. 

Algumas autoridades da UE, no entanto, destacaram que essa medida contra o trabalho forçado não era tão forte quanto uma promessa anterior da CE, de apresentar uma lei que almeja responsabilizar as empresas por possíveis abusos dos direitos humanos e ambientais em suas cadeias de abastecimento. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/09/16/ue-tera-plano-de-investimento-externo-para-competir-com-programa-chines.ghtml

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