Uma aliança entre autoridades eleitorais, empresas de tecnologia e pesquisadores de mídias sociais está intensificando os esforços para evitar tentativas de interferência eleitoral por hackers e disseminadores de desinformação nas próximas eleições europeias em maio.
Os riscos são excepcionalmente altos nessas eleições, em meio à incerteza sobre o futuro do Reino Unido na União Europeia (UE); à agitação política causada pelo nativismo e nacionalismo no bloco econômico; e ao impacto de fatores externos, como interferência estrangeira, migração e disputas no comércio exterior, que ameaçam trazer mais desestabilização.
Desde 2016, quando a Rússia atuou para influenciar eleitores no pleito presidencial dos EUA, usando contas falsas em redes sociais como Facebook e Twitter, pesquisadores e autoridades têm feito alertas e buscado formas de evitar o uso de técnicas similares em eleições no resto do mundo.
Policiar as eleições para o Parlamento Europeu, que envolvem 24 idiomas em ao menos 27 países e vão eleger mais de 700 membros, representa um do maiores desafios enfrentados até agora, segundo executivos de empresas tecnológicas e autoridades. Monitorar tantos votos requer uma logística complexa. Além disso, novos atores, domésticos e estrangeiros, têm seguido o modelo da Rússia para fomentar a discórdia.
“Essas eleições representam um alvo tentador para os que querem semear o dissentimento e perturbar nosso debate democrático”, disse Julian King, comissário de Segurança da UE.
Desde 2018, hackers apoiados pelo governo russo, apelidados de APT28 e equipe Sandworn, vêm atacando governos da UE e outros grupos tendo como alvo as próximas eleições, segundo especialistas em cibersegurança da FireEye.
Agora, a UE está se coordenando para combater a interferência nas eleições. O bloco dobrou seu orçamento anual para uma força-tarefa que combate a desinformação on-line. Desde janeiro, uma rede formada por autoridades eleitorais nacionais da UE e especialistas em proteção de dados e cibersegurança reúne-se mensalmente e já criou um “sistema de alerta rápido” sobre desinformações, segundo a Comissão Europeia.
Ainda assim, o orçamento anual da UE de várias centenas de milhões de euros para a cibersegurança e para conter a desinformação é nanico quando comparado ao alocado por Washington para este ano, multibilionário, segundo auditores da UE. Governos federais europeus já têm orçamentos próprios de cibersegurança, mas não há uma visão geral clara e os gastos da UE são tão espalhados que não se sabe “exatamente quanto está sendo gasto”, disse o auditor Baudilio Tome Muguruza. “A fragmentação indica um problema de coordenação que pode ser explorado por ciberataques.”
Grandes empresas de tecnologia se comprometeram a limitar a disseminação de desinformações relacionadas às eleições. Um dos focos tem sido o aumento da transparência dos anúncios categorizados como políticos. Agora, é possível ver quem pagou por esses anúncios.
Mas pesquisadores dizem que os anúncios pagos são apenas uma parte do problema, porque as campanhas de desinformação frequentemente acontecem por meio do compartilhamento não pago de artigos noticiosos, memes e outros tipos de conteúdo enganosos difíceis de detectar.
Limpar os anúncios políticos pagos é “o mais fácil de fazer em termos de transparência e regulamentação”, disse Chloe Colliver, que comanda a unidade de pesquisas digitais do Institute for Strategic Dialogue, em Londres, que monitora campanhas na Alemanha, França, Itália, Espanha e Polônia. Os anúncios são “apenas a ponta do iceberg.”
Um fator que complica os esforços é a disseminação da desinformação, que se tornou muito mais localizada. “Atores domésticos agora são uma ameaça muito maior do que a Rússia”, diz Clint Watts, do Foreign Policy Research Institute, em Washington.
Os idealizadores de campanhas de desinformação também encontram cada vez mais conteúdo de ativistas ou pessoas reais para disseminar, em vez de precisar criar seu próprio conteúdo ou usar contas falsas para isso.
“Há uma oferta disponível de material maldoso sendo produzido por pessoas genuínas”, disse Colliver.
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