Os EUA esperam a adoção de medidas imediatas pela China em questões comerciais, após o acordo fechado pelos líderes dos dois países. Isso incluiu a redução das tarifas chinesas a automóveis e medidas contra roubo de propriedade intelectual e transferência tecnológica forçada, informaram ontem autoridades americanas.
Em reunião na Argentina, no sábado, os presidentes dos EUA, Donald Trump,
e da China, Xi Jinping, concordaram em suspender a adoção de novas tarifas
por 90 dias. Declararam, assim, uma trégua após meses de escalada das
tensões comerciais e em outras áreas. Esse período de 90 dias começa em 1o de janeiro, afirmou ontem Larry Kudlow, assessor econômico da Casa Branca.
Os chineses ofereceram mais de US$ 1,2 trilhão em compromissos adicionais de comércio, disse ontem o secretário do Tesouro dos EUA, Steve Mnuchin. Segundo Kudlow, esse número é um parâmetro amplo e se refere a transações previstas para a compra de produtos americanos, sujeitas a condições do mercado.
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A China se comprometeu ainda a começar a suspender imediatamente barreiras tarifárias e não tarifárias, inclusive a
baixar suas tarifas de 40% sobre automóveis americanos, disse Kudlow. “Esperamos que essa tarifa caia para zero.”
Os americanos poderão ter ainda controle majoritário sobre empresas atuantes na China, o que deve ajudar a enfrentar as preocupações dos EUA em relação a roubo de propriedade intelectual e transferências forçadas de tecnologia.
Nenhum dos compromissos foram pactuados por escrito, e os detalhes ainda não foram aprovados.
Mnuchin disse que houve uma mudança de tom em relação a discussões passadas. Xi teria oferecido um compromisso claro de abrir o mercado chinês a empresas americanas. “Esta é a primeira vez que temos um compromisso deles de que será um acordo verdadeiro.”
Kudlow, diretor do Conselho Econômico Nacional americano, disse que ele, Mnuchin e o representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, mantiveram duas reuniões com o vice-premiê da China, Liu He, na Argentina, e que ele lhes disse que Pequim tomará providências imediatas quanto aos novos compromissos.
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“O histórico com as promessas da China não é muito bom”, disse Kudlow. “No entanto, vou dizer o seguinte: o presidente Xi nunca esteve tão envolvido”. “Eles não conseguirão frear, paralisar, dispersar isso em várias direções. A palavra deles foi: ‘imediatamente'”.
A trégua provocou alta nas bolsas mundiais ontem; as ações subiram para os maiores níveis em três semanas. A cotação do petróleo subiu, com o risco menos de uma desaceleração brusca da economia mundial. Isso também fez o dólar cair nos mercados globais.
Kudlow disse que autoridades americanas vão monitorar bem de perto os avanços da China no cumprimento das promessas. Trump indicou Lighthizer, um dos mais enfáticos críticos da China do governo americano, para fiscalizar a nova rodada comercial com a China, disseram as autoridades.
A indicação de Lighthizer, que acaba de concluir um novo acordo com Canadá e México, pode implicar a adoção de uma linha mais dura na negociação com Pequim, e marca uma mudança em relação ao passado recente, quando Mnuchin teve o papel principal.
“Ele é o negociador mais duro que já tivemos no escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR, na sigla em inglês), e ele vai examinar tudo, de trás para a frente e baixar as barreiras tarifas, não tarifárias e pôr fim a todas essas práticas estruturais que impedem o acesso ao mercado”, disse o assessor da Casa Branca para Comércio Exterior, Peter Navarro, à National Public Radio horas antes ontem.
Kudlow disse que ele e Mnuchin também estarão envolvidos. O secretário do Tesouro cuidará das questões financeiras e monetárias.
A Casa Branca está intensificando seus esforços para estimular outros países a montar mais veículos nos EUA. Lighhizer e outras autoridades, entre as quais Kudlow, deverão se reunir hoje com montadoras alemãs, incluindo os executivos-chefe da Volkswagen e da Daimler, disseram fontes.
Kudlow afirmou que a reunião não visa se concentrar em potenciais tarifas aos automóveis, embora Trump ainda mantenha essa possibilidade em seu “arsenal”, e que as montadoras seriam incentivadas a montar motores nos EUA.
Autoridades chinesas não responderam a pedidos para comentar o tuíte de Trump a propósito da redução da tarifa aos automóveis. Nenhum dos dois países tinha mencionado tarifas sobre automóveis em seus informes oficiais sobre o encontro entre Trump e Xi. No domingo, Trump tuitou que a China tinha aceitado reduzir as tarifas a automóveis feitos nos EUA.
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