EUA e Reino Unido já veem impulso da volta à normalidade

Depois do pior ano para a economia mundial desde a Grande Depressão, os EUA e o Reino Unido parecem estar no rumo de uma forte recuperação, graças à vacinação em massa contra a covid-19, que estimula o retorno a uma vida mais ou menos normal. 

A União Europeia (UE) pode ficar um pouco atrasada. Mas esse renascimento se dará em etapas, uma vez que o momento e a velocidade das recuperações dependerão do alcance da vacinação, segundo economistas. As economias na América do Norte e Europa deverão ganhar mais fôlego, à medida que lojas, restaurantes e hotéis forem recebendo grandes números consumidores recém-vacinados e com os bolsos cheios com a poupança acumulada durante a pandemia em que consumidores pelo mundo tinham uma poupança relacionada à pandemia de US $ 5,4 trilhões. 

Economias como a dos EUA e a do Reino Unido deverão gozar de retomadas mais rápidas, puxadas pelos consumidores, uma vez que se aproximam das metas de imunização estabelecidas. Indicadores esperados para esta quinta-feira deverão mostrar uma aceleração do crescimento nos EUA no primeiro trimestre, impulsionado pelo abrandamento das restrições ligadas à covid-19 e pelo aumento na cobertura da vacinação. 

Na Europa, onde a vacinação tem sido afetada por problemas na oferta de vacinas e preocupações quanto aos efeitos colaterais, as economias deverão levar um pouco mais de tempo para se livrar do torpor trazido pelos “lockdowns”. Os dados esperados para esta sexta-feira deverão mostrar uma contração da zona do euro no primeiro trimestre, tendo em vista que alguns governos voltaram a adotar restrições para controlar novas ondas de contágios. Por outro lado, dados mais recentes de pesquisas sobre a atividade das empresas, indicam uma retomada do em abril. 

“O único caminho para garantir a reabertura da economia é por meio da vacinação”, disse Klaus Baader, economista do Société Générale. “As economias que vacinam com mais rapidez são as que estarão no topo do crescimento.” 

A recuperação ainda pode perder força. Variantes do vírus que consigam driblar nossas defesas imunológicas e provoquem novos surtos são uma preocupação não só para as autoridades de saúde pública, mas também para as lideranças econômicas que buscam recuperar a saúde de suas debilitadas economias. Na semana passada, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse que a disseminação de mutações do vírus representa uma grande ameaça para a expectativa de recuperação da zona do euro. 

Além disso, apesar de as vacinas estarem ajudando a superar a covid-19 em boa parte do Ocidente, a pandemia ainda está longe de acabar em países como a Índia e o Brasil, onde grandes ondas de contágio superlotam hospitais e assolam a atividade econômica. 

No fim de semana, a maior campanha de vacinação da história da humanidade superou a marca de 1 bilhão de doses aplicadas em todo o mundo. Mas o acesso desigual à vacina aprofundou o fosso entre países ricos e pobres. 

Economistas projetam que os EUA terão crescimento anualizado de 6,5% no primeiro trimestre, segundo pesquisa do “Wall Street Journal”, com o aumento do consumo compensando problemas na produção de petróleo no Texas provocados pelo clima e falta de chips para o setor automotivo. 

As baixíssimas taxas de juros e o pacote de estímulos de US$ 1,9 trilhão do governo de Joe Biden servem de sustentação para essa expectativa de recuperação. 

O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que os EUA terão crescimento superior a 6% neste ano, impulsionados pela vacinação, que permite às empresas reabrir suas portas e aos consumidores, suas carteiras. O Fundo calcula que a economia americana superará seu tamanho pré-pandemia ainda neste ano, enquanto outras grandes economias farão o mesmo em 2022. A China já recuperou o terreno perdido para a covid-19. 

Grandes empresas aéreas, como a Southwest Airlines e a American Airlines, vêm reconvocando pilotos e comissários de bordo, à medida que a demanda por viagens ganha força, após 12 meses de colapso. “Acreditamos que o pior finalmente ficou para trás”, disse Gary Kelly, CEO da Southwest Airlines, na semana passada. 

Os EUA aplicaram ao menos uma dose da vacina em 42% da população adulta e agora todos os Estados ampliaram a campanha permitindo que qualquer pessoa com mais de 16 anos já possa ser imunizada. Os casos de covid-19 no país voltaram a cair após um repique em março. As mortes e hospitalizações de casos graves estão em queda, em especial, entre os idosos. A zona do euro, em contraste, deverá ter uma retração anualizada de 3,2% no primeiro trimestre, após países como a França terem endurecido as restrições diante do aumento no número de casos. 

“O que ainda vemos é um mundo que passa muito tempo em casa e consome muito de sua comida e bebida em casa”, disse Mark Schneider, CEO da Nestlé, maior fabricante de alimentos embalados do mundo, na semana passada. 

Os países europeus, em sua maior parte, vêm sendo mais lentos na vacinação de seus cidadãos do que os EUA. Os 27 países da UE vacinaram apenas 21% dos adultos com ao menos uma dose, segundo números do projeto Our World in Data, da Universidade de Oxford. 

Mas o ritmo da vacinação agora está se acelerando, graças à disponibilidade de mais doses e à facilitação do acesso. Isso abre caminho para uma recuperação mais forte no segundo semestre. O FMI prevê crescimento de 4,4% para a zona do euro neste ano, puxado pela retomada na França e Alemanha. 

O crescimento no Reino Unido, que em 2020 teve sua pior recessão desde 1709, já mostra sinais de forte reaquecimento, graças à cautelosa reabertura do país após a rápida campanha de vacinação. 

Por trás da diferença no ritmo de vacinação há uma complexa mistura de decisões políticas e reguladoras, falta de vacinas, burocracia e problemas logísticos. 

Os países da UE iniciaram sua vacinação uma semana depois do que os EUA e duas semanas depois que o Reino Unido. A vacinação na UE no início do ano foi atrapalhada por problemas na oferta da vacina desenvolvida pela AstraZeneca e pela Universidade de Oxford, o que alimentou tensões com o Reino Unido e outros países quanto ao acesso às vacinas. 

Líderes europeus agora estão otimistas e acreditam que a maioria dos adultos será vacinada ao longo do terceiro trimestre, graças à aceleração na produção. A Comissão Europeia, braço executivo da UE, disse na sexta-feira que cumprirá a meta de vacinar 70% da população adulta até julho. 

Mas nas últimas semanas surgiu mais um contratempo. Autoridades reguladoras na Europa e EUA estudam casos raros de formação de coágulos sanguíneos em pessoas jovens, associados às vacinas criadas pela AstraZeneca e Johnson & Johnson (J&J). 

Os países reagiram de forma diferente, refletindo os diferentes graus de avanço no combate à pandemia e na vacinação de suas populações. Na França, onde os leitos de tratamento intensivo em muitas regiões estão repletos de pacientes com covid- 19, as autoridades agora tentam encorajar as pessoas a receberem a vacina da AstraZeneca, depois de inicialmente terem criticado sua eficácia. 

Outros governos europeus, incluindo os da Alemanha e do Reino Unido, restringiram o uso da vacina à população mais idosa. A Dinamarca a vetou completamente. A Agência Europeia de Medicamentos (EMA), equivalente à agência de alimentos e medicamentos dos EUA (FDA), recomendou que os países continuem aplicando a vacina, sustentando que os benefícios contra contágios e mortes por covid-19 superam os riscos associados. Nos EUA, a FDA retomou o uso da vacina produzida pela J&J, mas informou que ela precisará vir com um alerta sobre o risco de formação de coágulos. 

Enquanto os países ricos debatem os méritos de cada vacina, os esforços de vacinação contra a covid-19 nos países mais pobres perderam muita força. 

A iniciativa Covax, financiada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por países ricos para fornecer vacinas gratuitas a 92 países de baixa e média renda,recentemente reduziu em 40% o número de vacinas que pretende enviar até o fim de maio, para 145 milhões de doses, porque alguns países ricos compraram os estoques de doses e porque a Índia, seu principal fornecedor, deixou de exportar vacinas para combater o aumento nos casos no país. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/04/26/eua-e-reino-unido-ja-veem-impulso-da-volta-a-normalidade.ghtml

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