ESG é para valer e veio para ficar

Algumas pessoas me perguntam se ESG (sigla para ambiente, social e governança) é uma moda do mercado com data de validade ou se é para valer mesmo e veio para ficar. A minha resposta para essa questão pode variar de um categórico “é para valer” a uma demorada explicação das tendências ESG no Brasil e no mundo, dependendo do interesse do interlocutor. Bons argumentos não faltam. 

O ano de 2020, que foi marcante para todos nós no âmbito pessoal, também trouxe reflexões importantes em outras frentes. Dentre elas, destaco uma provocada pelo historiador e filósofo israelense Yuval Harari no contexto do combate à pandemia: a importância do engajamento dos líderes e da cooperação entre as nações. Em relação à pauta ESG, os investidores e o mercado financeiro têm um papel fundamental para uma transformação global que coloque a sustentabilidade social e ambiental como pilares do nosso modelo econômico. 

Mudar o mundo pode soar idealista demais, mas acredito que o debate e a conscientização do mercado sobre seu potencial como agente de mudança sejam fundamentais. Em sua tradicional carta ao mercado, Larry Fink (CEO da Black Rock e responsável pela gestão de mais de US$ 7,4 trilhões em ativos) não deixa dúvidas de que as questões ambientais, sociais e de governança serão responsáveis por uma complete revisão do futuro.

Globalmente, os investimentos responsáveis já ultrapassam os US$ 31 trilhões, o equivalente a 36% de todos os ativos sob gestão no mundo, de acordo com dados do Global Sustainable Investment Alliance. No Brasil, a realidade ainda é um pouco diferente. Os números da Anbima mostram que a categoria “Ações Sustentabilidade/Governança”’ representa 12% dos fundos de ações e 1,3% do total da indústria de fundos (o que inclui fundos de ações, multimercado, renda fixa, cambiais, previdência e ETF). 

Olhando para dentro de casa e para o mercado, entendemos que este processo é uma jornada e queremos acelerar o nosso passo, reverenciando as melhores práticas de sustentabilidade e governança corporativa. No caso da XP, a ideia é se posicionar ativamente em relação às pautas de educação financeira de qualidade e de diversidade e inclusão, por entender como importantes para seus stakeholders e gerarem valor para a companhia. A empresa assumiu, por exemplo, o compromisso público de atingir no mínimo 50% de mulheres no quadro de colaboradores até 2025. 

Existe um potencial de mobilização do mercado financeiro na identificação e viabilização de soluções que enderecem as mudanças climáticas. O setor tem uma responsabilidade, como negócio, em reduzir as emissões de gases de efeito estufa. 

Uma outra questão acompanhada é a atenção maior que os produtos ESG têm recebido de investidores de varejo. Para os grandes ou institucionais, a preocupação com a aderência dos seus investimentos a determinados valores, visões de mundo e temas relacionados a uma economia mais inclusiva já era uma realidade. Pelo desempenho dos produtos de varejo em 2020, percebe-se que pequenos investidores estão cada vez mais interessados em incluir produtos ESG em seus portfólios. 

Vamos aos dados: uma pesquisa recente da consultoria McKinsey confirma que 75% das pessoas têm repensado hábitos de consumo. Comprar exige mais análise, mais ponderação, levando em consideração características como o impacto ambiental e social. Especialmente a geração Z, que já tem uma tendência de consumo alinhada às práticas ESG e que também se reflete no perfil desses jovens investidores. 

A maior atratividade dos fundos ESG no varejo, por outro lado, joga luz à qualidade da informação disponibilizada ao investidor, aspecto fundamental que devemos ter atenção em 2021. Temos pela frente o desafio de dar cada vez mais transparência do racional utilizado por trás de cada produto e das escolhas de investimentos das gestoras. 

O mercado de capitais e de investimentos tem muita oportunidade de explorar práticas ESG como um diferencial competitivo tanto do ponto de vista de performance das empresas como de investimentos. Nos dias 2 a 5 de março, inclusive, a XP realizará um evento com lideranças do Brasil e do exterior que compartilham dessa perspectiva e ajudam a esclarecer por que essa temática é tão relevante. 

Respondo com segurança, portanto, que ESG veio para ficar. E se tornará cada vez mais forte. Tenho convicção de que 2021 será um ano com ações importantes e ganho de ritmo nessa agenda. Estamos dando os primeiros passos em um caminho ainda em construção, mas seguimos em frente cheios de esperança e acreditando que, no fim da estrada, o que antes era um sonho grande se tornará realidade. 

https://valor.globo.com/financas/coluna/esg-e-para-valer-e-veio-para-ficar.ghtml

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