O partido populista Democratas da Suécia (SD), de agenda xenófoba e nacionalista, foi o terceiro colocado na eleição parlamentar na Suécia, realizada neste domingo (9). Apesar disso, ao receber 17,6% dos votos, sai como uma espécie de “campeão moral”.
Isso por ter sido o que mais avançou em relação à última votação, em 2014 (quase cinco pontos percentuais), o que forçará as duas alianças dominantes (de centro-esquerda e de centro-direita) a levá-lo em conta se quiserem se viabilizar como governo.
O bloco progressista teve 40,7% dos votos. Os sociais-democratas, cabeças de chapa e hoje no comando do país, recuaram a 28,4%, pior desempenho de sua história. Em relação a quatro anos atrás, o encolhimento foi de 2,8 pontos percentuais.
A coligação teve desta vez o reforço de um Partido de Esquerda turbinado (7,9% dos votos, mais de 2 pontos a mais do que em 2014), mas viu os Verdes tropeçarem (4,3%) e quase ficarem fora da nova legislatura —o requisito para ocupar um dos 349 assentos do Parlamento é obter ao menos 4% da votação nacional.
Do lado conservador, os Moderados, adversários históricos da social-democracia, não passaram dos 19,8% (queda de 3,5 pontos percentuais). O grupo é completado por centristas (8,6%), critãos-democratas (6,4%) —ambos mais vigorosos— e pelos estáveis liberais (5,5%).
No cômputo geral, a centro-esquerda amealhou 40,6% dos votos, e a centro-direita, 40,3%. O que, na prática, vai se traduzir em 144 assentos para o primeiro bloco e 143 para o segundo, distantes dos 175 necessários para constituir maioria. O populista SD terá 62.
Ou seja: se antes da eleição as duas frentes tinham se recusado a compor com os Democratas da Suécia por causa do discurso abertamente anti-imigração e eurocético deste, a convicção deve ser posta à prova nas próximas semanas (quiçá meses), quando transcorrerem as negociações para a formação do novo governo.
“Aumentamos nossa bancada e ganharemos muita influência sobre o que acontece na Suécia”, afirmou o líder do SD, Jimmie Akesson, após a divulgação de resultados parciais. Ele se disse pronto para negociar e colaborar com qualquer outra legenda.
Também acenou para o candidato do bloco de direita a primeiro-ministro, Ulf Kristersson, sugerindo que ele deveria optar entre buscar apoio dos Democratas da Suécia ou tentar compor com o campo progressista, liderado pelo premiê Stefan Lofven, em busca de um segundo mandato.
Kristersson, por sua vez, afirmou em discurso a correligionários que Lofven deveria renunciar. “Esse governo já se esgotou.”
O chefe de governo pouco depois se pronunciou recusando a sugestão. “Faltam duas semanas para que o Parlamento inicie seus trabalhos. Vou trabalhar com calma, respeitando os eleitores e o sistema eleitoral sueco”, disse, instando as diferentes correntes ao diálogo.
Para aumentar a musculatura de seu bloco de centro-esquerda e alcançar alguma governabilidade, Lofven precisaria anular a antipatia do lado antagonista ao Partido de Esquerda.
Já o chefe da ala conservadora, Kristersson, se quiser pleitear a chefia de governo com alguma chance de sucesso, precisa convencer seus aliados liberais e centristas a fazer alguma concessão ao SD.
Esses últimos, por sua vez, precisam reverter —ou atenuar— a repulsa generalizada que provocam no espectro político tradicional do país escandinavo.
Uma vitória eles já conquistaram: impor como pauta central da eleição a imigração e seus efeitos na economia e no modelo do Estado de bem-estar social. Nunca se terá falado tanto em ordem pública e segurança e tão pouco em saúde e educação em uma campanha majoritária sueca. Em um lugar conhecido internacionalmente pela bonomia no acolhimento a estrangeiros em dificuldade, não é pouco.