Dívida pública italiana deve atingir o maior nível em mais de cem anos

A dívida italiana neste ano superará o recorde registrado após a Primeira Guerra Mundial, o que coloca em evidência o desgastante custo da covid-19 na terceira maior economia da zona do euro. 

A nova projeção de endividamento, de 159,8% do Produto Interno Bruto (PIB), consta do panorama fiscal ratificado pelo gabinete do premiê da Itália, Mario Draghi, ontem. A proporção supera o recorde anterior, de 159,5%, em 1920, pouco antes da era da ditadura de Benito Mussolini. 

A atualização econômica também traz previsão de crescimento menor, de 4,1%, neste ano. A meta, no entanto, é de 4,5%, quando levados em conta estímulos econômicos e outras medidas, segundo um representante do governo. 

Também projeta déficit orçamentário de 11,8%, por conta do aumento de bilhões de euros na captação pelo governo italiano para proteger cidadãos e empresas. 

Os números são a primeira série completa de projeções econômicas divulgadas desde que Draghi assumiu o poder e o comando da resposta à pandemia de covid- 19, que matou mais de 115 mil pessoas no país e levou a medidas de confinamento que derrubaram setores importantes para a economia italiana, como o turismo. 

O governo concordou em captar €40 bilhões para custear novas medidas de estímulo, o que elevará os gastos com a pandemia até agora para mais de €170 bilhões. 

Por enquanto, os gastos da Itália estão sendo respaldados pelo Banco Central Europeu (BCE), que vem comprando bônus do governo para impedir aumento no diferencial dos rendimentos entre os países europeus e para aliviar o serviço da dívida da era da pandemia. 

Com as exigências de austeridade postergadas para permitir que o governo se dedique a reconstruir a economia, a retomada alimentada pelas medidas de estímulo do governo da Itália e da União Europeia deverá ajudar as finanças italianas a partir de 2022. 

Projeta-se queda no déficit para 5,9% do PIB em 2022, com o endividamento diminuindo para 156,3% do PIB. O governo não planeja levar o déficit de volta para os 3% até 2025, segundo uma versão preliminar do panorama fiscal à qual a Bloomberg teve acesso. A dívida deverá voltar ao nível pré-crise, de 134,6% do PIB, até o fim da década. 

Nos últimos dias, donos de restaurante enfrentaram a polícia em Roma, em meio a manifestações pedindo o abrandamento das restrições e mais auxílio econômico. Em outras cidades, manifestantes saíram às ruas pedir reabertura. 

Draghi está aumentando a pressão sobre governos regionais para acelerar o ritmo da vacinação. Mas está com dificuldade para atingir a meta de 500 mil doses aplicadas por dia, até o fim do mês. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/04/16/divida-publica-italiana-deve-atingir-o-maior-nivel-em-mais-de-cem-anos.ghtml

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