Cresce na China calote de empresas privadas

Mais empresas chinesas estão deixando de honrar o pagamento de bônus privados neste ano, num momento em que a desaceleração da economia afeta empresas mais fracas e elas tentam quitar títulos negociados publicamente em primeiro lugar.
As empresas do país deixaram de honrar um recorde de 31,8 bilhões de yuans (US$ 4,4 bilhões) em bônus privados neste ano até o fim de agosto, comparativamente aos 26,7 bilhões de yuans que deixaram de pagar em 2017 e 2018 somados, de acordo com dados da China Chengxin International Credit Rating, uma das maiores empresas chinesas de classificação de crédito.
“As emissoras de bônus privados não são obrigadas a divulgar seus resultados publicamente, portanto as empresas podem optar por quitar títulos públicos em primeiro lugar quando passam por situação de pressão financeira”, disse Chen Su, do Qingdao Rural Commercial Bank.
As empresas poderão tentar prorrogar o vencimento de seus títulos particulares por meio de negociações secretas, disse ele. O volume de bônus emitidos publicamente é cerca de três vezes maior que o de papéis privados, segundo dados reunidos pela Bloomberg.
Apesar disso, o mercado de colocação privada é fonte fundamental de financiamento para as empresas chinesas de menor porte, não estatais, e relevante veículo de custeio de governos municipais e provinciais, já que os acordos são fechados com um pequeno grupo de investidores institucionais qualificados, o que protege as empresas da volatilidade do mercado. O total dos calotes em bônus corporativos na China, até esta altura do ano, alcançou 78,4 bilhões de yuans, valor 51% superior ao do mesmo período de 2018, devido à desaceleração da economia.
O HNA Group International, uma unidade do conglomerado privado HNA Group, que está em dificuldades, honrou um título de US$ 300 milhões com vencimento em 18 de agosto, depois de deixar de pagar um bônus privado de 1,5 bilhão de yuans no fim de julho. Um representante do HNA Group contatado pela Bloomberg se recusou a comentar se a dívida privada fora paga.
Há indícios de que os calotes passaram a pesar na demanda desses títulos. A emissão de bônus corporativos oferecidos privadamente na China caiu nos quatro meses até julho, o mais longo período de queda em mais de dois anos, antes de subir para cerca de 160 bilhões de yuans em agosto, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Os investidores também estão pedindo um prêmio de risco mais alto em títulos emitidos privadamente. A diferença média de cupom entre as novas vendas de bônus privados e públicos era de 154,2 pontos-base em janeiro e o spread subiu para 179,5 pontos-base no fim de agosto, segundo dados reunidos pela Bloomberg.
“Provavelmente os investidores vão pedir um prêmio ainda mais alto nos bônus privados de empresas de risco”, disse Chen.
A proporção da inadimplência com relação ao total dos bônus privados emitidos foi de 0,63%, mais do que o dobro da proporção de 0,26% no mercado de bônus públicos, segundo dados da agência de classificação de crédito China Chengxin International.
Para Yang Hao, analista de renda fixa da Nanjing Securities, a preocupação com a crescente inadimplência no setor privado significa que os investidores continuarão a favorecer o setor estatal.
“A demanda pela dívida oferecida por empresas estatais e veículos de financiamento de governos locais é forte, enquanto as instituições rejeitam os bônus públicas de empresas privadas e, principalmente, seus títulos emitidos em colocações privadas”, disse Yang.

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