China rejeita possível abertura de escritório da Otan no Japão

As negociações travadas entre Japão e Otan para que a aliança militar ocidental liderada pelos EUA abra um escritório de cooperação no país asiático voltaram a acirrar a tensão com a China.

A tratativa ainda está aberta, mas autoridades já sinalizaram que, após a Guerra da Ucrânia, conflito que forçou o Japão a rever sua agenda de segurança, o diálogo com a Otan foi ampliado. Assim, acolher um escritório da aliança é uma possibilidade cogitada em altos níveis.

Durante entrevista coletiva em Pequim, a porta-voz da chancelaria chinesa Mao Ning, questionada sobre o assunto, disse que a região Ásia-Pacífico “não acolherá bem” uma disputa de blocos ou blocos militares. “Dado o histórico de agressões no Japão, o país precisa ser prudente em questões militares e de segurança e se assegurar de que suas ações colaborem para a paz regional.”

Mao falou pouco após o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, abordar o assunto durante fala no Parlamento. O premiê descartou que o país tenha planos de se tornar membro da Otan, mas reconheceu os diálogos para a abertura de um escritório na capital do país.

A informação foi divulgada pela primeira vez no último dia 10, durante entrevista do chanceler japonês, Yoshimasa Hayashi, à rede CNN. Na ocasião, ele disse que o martelo ainda não havia sido batido, mas deixou claro que o plano tem boas chances de se concretizar em breve.

“O que está acontecendo no Leste Europeu [em referência à guerra] não se limita apenas à questão local, isso afeta diretamente a situação aqui no Pacífico. É por isso que uma cooperação entre nós, do Leste Asiático, e a Otan está se tornando cada vez mais importante.”

A Otan está no centro da disputa narrativa e militar entre Rússia e Ucrânia. Além de países-membros da aliança serem os principais apoiadores de Kiev, com envio de dinheiro e equipamentos de batalha, Moscou também usa a proximidade da aliança com o país vizinho como um dos argumentos para a invasão.

Ainda que o governo de Kishida não tenha feito um anúncio formal, o jornal Japan Times, citando fontes do alto escalão do governo, publicou que o premiê deve participar da cúpula da Otan na Lituânia em julho —data que marcará a entrada da Finlândia na aliança.

Espera-se que Kishida também se reúna com o secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg, para esboçar um novo plano de cooperação na área de segurança. Em 2022, o premiê se tornou o primeiro líder do país a comparecer a uma cúpula da aliança ocidental.

Também nesta quarta-feira, o Ministério da Defesa japonês, durante cerimônia que contou com a participação do embaixador ucraniano no país, Sergii Korsunski, prometeu doar cem veículos blindados para Kiev, além de mais ajuda alimentar. “Esperamos que a invasão [russa] termine o mais rapidamente possível”, afirmou o vice-chefe da pasta de Defesa, Toshiro Ino. “Daremos o máximo de apoio possível.”

Ainda que a abertura de um escritório da Otan em solo japonês não signifique o ingresso da entrada do país na aliança, o alargamento da presença militar ocidental na região acende o alerta de Pequim em especial em relação à ilha de Taiwan, hoje o ponto mais sensível da política externa do regime comunista.

A Constituição japonesa, datada do pós-guerra e imposta pelos EUA, é conhecida por seu caráter pacifista ao abrir mão do direito de guerrear e dos meios para fazê-lo. Isso não impediu, porém, que, no final do ano passado, o país aprovasse seu maior orçamento militar desde a Segunda Guerra Mundial.

O país argumentou que o plano de US$ 320 bilhões será usado apenas para sua estratégia de autodefesa, não para interferir em conflitos alheios. Parte do debate sobre a possibilidade, ainda que remota, de entrar na Otan reside no fato de que Estados-membros da aliança, entre outros pontos, comprometem-se com um princípio de defesa mútua, que permite proteção militar coletiva a qualquer membro alvo de ataque.

O acaloramento dos debates sobre a proximidade com a aliança ocorre poucos dias após o Japão sediar, em Hiroshima, a cúpula do G7, que reúne algumas das principais economias do mundo —o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou como convidado, ainda que o Brasil não integre o grupo.

O comunicado final do encontro, como era esperado, expressou o comprometimento de seguir enviando apoio a Kiev pelo tempo que for necessário e fez uma série de acenos críticos à China de Xi Jinping.

O texto diz, por exemplo, que países-membros e convidados não têm o objetivo de prejudicar o gigante asiático em seu progresso e desenvolvimento econômico, mas também reafirma o compromisso com “a paz e a estabilidade” em Taiwan, a ilha que Pequim considera uma província rebelde, e diz apoiar um Indo-Pacífico livre e “se opor a qualquer tentativa unilateral de mudar o status quo pela força ou pela coerção”

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2023/05/china-rejeita-possivel-abertura-de-escritorio-da-otan-no-japao.shtml

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